CAPÍTULO 4

Narrado por Anita

Todos começaram a cochichar em simultâneo ao verem uma professora aparentemente tão jovem que mais parecia uma das alunas. Notei também o quão vermelho Alberto ficou e percebi que seus colegas começaram a tirar brincadeiras com ele, o deixando ainda mais envergonhado. Por isso, eu continuei:

— Sim, sou professora, e gostaria muito de me dar bem com todos vocês. Afinal, este é meu primeiro ano aqui. Então, vamos começar: gostaria de perguntar o nome e a idade de cada um, tá ok?

Uma das adolescentes levantou a mão e eu dei-lhe a palavra:

— Hã... qual é o seu nome mesmo?

— Patrícia Martins, tenho 14 anos — respondeu ela — Mas me desculpe perguntar, como vamos acreditar que você é mesmo professora? Parece tão jovem, até mais jovem que eu, pode ser uma aluna fazendo piada da nossa cara. Se for realmente nossa professora, tem como provar?

— Patrícia, entendo sua dúvida. Sei que aparento ser muito jovem, mas é só aparência mesmo, e sobre mim o que posso dizer... Bem... Estou seguindo a carreira do magistério por amor, mas não abro mão do meu doutorado. Quem sabe um dia não viro uma PhD, não é?

Novamente ouvi um coro de exclamações na sala, mas continuei:

— Sei que aparento ser muito jovem, mas é só aparência mesmo, e sobre mim o que posso dizer...Bem.. Poderia ter me tornado uma historiadora, mas preferi a área do magistério por motivos pessoais. Para provar que sou sua professora, tenho aqui todo o conteúdo que precisarei passar este ano!

Então falei tudo o que havia anotado na agenda e, após as apresentações, eles começaram a acreditar em mim. Então, um aluno um pouco mais audacioso chamado Gustavo Moura, que disse ter 15 anos, comentou:

— Professora, a senhora é muito bonita e tem um sotaque muito sexy e fofo, a senhora é japonesa?

Fiquei corada com as palavras dele e pensei comigo mesma:

— Meu Deus, como esses jovens são ousados hoje em dia?

Mas sorri e respondi:

— Não! Tenho descendência coreana. Meu pai era coreano e minha mãe brasileira.

Depois disso, comecei a dar a aula. Todos os jovens adoraram o jeito engraçado e até um pouco atrapalhado com que eu explicava, prendendo-os em pontos específicos da história com prazer. Com o tempo, eles disseram ser impossível não aprender história do jeito que eu explicava, fiquei muito feliz com a receptividade deles.

Quando a primeira aula acabou, todos agradeceram e saíram para o corredor, inclusive Alberto, mas não antes de se desculpar por tentar me cantar. Ri e disse:

— Tudo bem, Alberto, não foi desrespeitoso. Além disso, você não sabia que eu era sua professora. Mas espero que, agora que sabe, continue a me tratar como tal. Assim, nos daremos muito bem!

Levantei o polegar, ele sorriu e fez o mesmo.

VOLTANDO AO PRESENTE.

Aquelas lembranças, ainda ressoava em minha mente quando cheguei à minha sala, preparando-me para mais um dia intenso de ensino, desafios e, claro, minhas trapalhadas costumeiras.

Após a entrega das provas, percebi que Alberto chegou à sala quinze minutos atrasado e ainda estava muito inquieto. Foi o quarto a me entregar a prova, o que achei estranho, pois ele geralmente era o primeiro. Quando comecei a ler seu teste, franzi o cenho, decepcionada.

Após passar as provas, fui para a lanchonete da escola. Sentada, saboreando meu lanche, olhava as provas.Tinha muito orgulho da maioria dos meus alunos, pois eles demonstravam ter entendido bem as aulas. Mas, em relação a Alberto, eu não entendia o motivo do desempenho ruim: das dez perguntas, ele só acertou quatro.Logo que vi Gael, seu melhor amigo, chamei-o com a mão para perto da minha mesa. Ele se aproximou com o cenho franzido, parecia apreensivo, e falou:

— O que houve, professora? Fui muito mal na minha prova?

Sorri consoladora e respondi:

— Não se preocupe, você foi bem. Vai saber melhor amanhã, quando entregar os resultados. Mas o que quero saber é se viu o Alberto. Gostaria de falar com ele, mas ainda não o vi por aqui.

Ele respondeu:

— Vi o Beto lá no portão do colégio, conversando com uns caras aí e…

— E o que?! — Perguntei, levantando as sobrancelhas.

Ele desconversou:

— Ah... esquece, professora! Não é nada demais. Mas não se preocupe, daqui a pouco ele entra, ainda temos prova da professora Ângela de biologia!

— Tudo bem, então depois falo com ele!

Percebi que ele queria falar algo mais, mas não falou, pediu licença e foi embora, deixando-me com pensamentos confusos. Tinha certeza que Gustavo sabia algo sobre o amigo, mas não tinha coragem de contar. Depois disso, não consegui mais falar com ele, pois o horário das minhas aulas havia acabado.

Ao cair da tarde conheci minhas novas turmas, e o tempo passou rápido. Quando olhei o relógio no pulso, já eram seis e meia. Despedi-me dos colegas e saí do colégio, feliz por não ver mais Carlos durante o dia. Parecia que ele realmente ficou assustado com minhas ameaças. Enquanto esperava no ponto de ônibus, conversava animadamente com Marlene, a senhora da lanchonete.

Quando ela pegou seu ônibus, fiquei sozinha. Olhei para o outro lado da rua e vi, ao longe, Alberto. Perguntei-me:

— Nosso Alberto aqui nesse horário? Ele não devia estar em casa uma hora dessas?

Notei que ele conversava com dois rapazes que pareciam alterados. Eles pegaram o braço dele e o colocaram dentro de um carro com rudeza, praticamente usando força. Em desespero, chamei por ele, mas ele não me ouviu.Vi a cena, chamei um táxi e pedi para o motorista seguir o carro. Acompanhei enquanto seguiam para Vila Olímpia. Depois de cerca de uma hora e meia, pararam em frente a uma casa muito bonita. Não entraram pela frente, mas pelos fundos, e ele entrou com eles. Notei muitas câmeras por ali, então me abaixei e me escondi atrás de um arbusto.

Fiquei um bom tempo escondida ali me perguntando o que estava fazendo afinal. E havia passado cerca de uma hora, e ele ainda estava lá dentro. Pensei:

— O que será que Alberto faz aqui? Com esses homens tão esquisitos? Droga, por que estou seguindo ele? Talvez sejam apenas amigos. E se ele me encontrar aqui? Que vergonha! No fim das contas, Martina tem razão: eu sempre me meto em situações vergonhosas e desastrosas! Melhor ir embora… pensei.

Determinada, levantei-me bem devagar para não ser vista. Mas o que observei a seguir me deixou temporariamente estática e nervosa. Não sabia como agir, mas sabia que algo tinha que ser feito…

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