Capítulo 3

Anita Narrando

Ao chegar no colégio São Jorge, aproveitei os minutos que ainda tinha antes do início das aulas para me preparar. Fui direto para a sala dos professores. Ali, com calma e sossego — afinal, todos já estavam em aula — peguei a agenda do colégio e comecei a fazer anotações detalhadas.

Precisava saber quais seriam os horários e as salas das minhas aulas à tarde, assim como o conteúdo programático que teria que ministrar. Anotar tudo era um hábito, uma forma de me organizar para não deixar nada escapar.

Enquanto eu preenchia a minha agenda, concentrada, senti de repente uma mão firme segurando a minha cintura. Antes que eu pudesse reagir, a mão subiu em direção aos meus seios. Assustada, levantei-me num pulo da cadeira, completamente assustada de surpresa e medo.

Virei-me para encarar o dono daquele toque invasivo: o professor Carlos sorria maliciosamente.

— Nossa, Anita, pela sua reação, parece que faz tempo que não sabe o que é um homem de verdade, hein? — falou com um sorriso insinuante o professor Carlos.

— Ca... Carlos, o que você está fazendo aqui? Não devia estar dando aula? — perguntei, assustada e irritada. Por um instante, esqueci o incômodo de tê-lo tão próximo. Nunca gostei do jeito desrespeitoso dele comigo. E o que mais me incomodava era que eu jamais tinha uma resposta à altura quando ele fazia esse tipo de coisa. Me sentia uma idiota.

Ele riu e, malicioso, afastou uma mecha do meu cabelo, causando em mim uma repulsa involuntária. Carlos interpretou isso como um sinal de excitação e sussurrou no meu ouvido:

— É como eu pensei, faz tempo que você não experimenta um homem, né? Sobre sua pergunta, sim, tive que dar aula de manhã — era dia de prova e o horário já havia acabado — e só volto a aula mais tarde. Aproveitei para fazer companhia, já que você também só começa mais tarde, não é?

Meus olhos se abriram ainda mais. Olhei o relógio no pulso e respondi:

— Está muito enganado. Na verdade, eu já estou no meu horário!

Com essa frase, comecei a pegar minhas coisas com a intenção de sair, mas ele segurou meus pulsos com força.

— Não minta, Anita. Você ainda tem pelo menos uns vinte e cinco minutos até a aula começar! Vamos, gatinha, vou só fazer companhia. Eu não mordo, sabia? E não farei nada que você não queira, embora, se quiser, podemos nos divertir bastante. Você é tão bonita, com ar inocente, parece até uma aluna, não uma professora!

Ele tentou passar a mão pelo meu rosto, mas eu desviei rapidamente, pensando: “Carlos é daquele tipo de homem que gosta de jovenzinhas inocentes. Que nojo!”.

Lembrei dos boatos dentro do colégio, sobre envolvimentos dele com algumas alunas. Por isso, firme, falei:

— Eu pareço uma aluna, mas não sou. Sou professora e sua colega de trabalho. Exijo respeito. Nunca te dei intimidade, então pare de tentar me tocar. Saiba que, se isso continuar, vou te acusar de assédio sexual. Se quiser evitar problemas, pense duas vezes! Agora, por favor, com licença, já estou no meu horário.

Percebendo que eu estava falando sério, ele tentou me segurar e disse:

— Calma, Anita, não precisa levar as coisas tão a sério assim. Eu só queria ser seu amigo!

Encarando-o com firmeza, respondi:

— Já falei que não quero repetir. Se realmente deseja ser meu amigo, não faça isso jamais! Com força — puxei meu pulso de suas mãos, peguei minhas coisas e saí daquela sala, deixando-o pensativo com as ameaças que eu havia feito.

No corredor, distraída com meus pensamentos, nem percebi que Alberto, um dos meus alunos, vinha apressado na minha direção. Ele também estava distraído e tentou desviar para evitar colisão, mas acabou esbarrando na minha prancheta e livros, derrubando tudo no chão.

— Caramba, professora Anita, desculpe! — disse ele, com cara de preocupado.

— Tudo bem, Alberto. Pelo menos dessa vez não fui eu a culpada! — brinquei, sorrindo enquanto juntava meus pertences com a ajuda dele. O garoto sorriu. Quando nos levantamos, notei que Alberto parecia nervoso. Observei que ele seguia em direção contrária à minha sala, então perguntei:

— Alberto, já vou para a prova. Vamos?

Ele fez cara de espanto e disse:

— Já estou indo, professora. Só preciso resolver um probleminha ali antes. Mas não se preocupe, não vou perder sua prova. Jamais. Com licença!

E saiu correndo, apressado. Franzi o cenho. Alberto era um dos melhores alunos que eu já tive: aplicado, sempre tirava as melhores notas, nunca faltava às aulas, nem mesmo para as minhas ou as de outros professores.

Eu sabia que ele tinha um grande futuro pela frente. Quando descobri sua vocação para o design, através da professora Simone inglês, ele ganhou um curso de informática e design gratuito. Parecia estar aproveitando bem, mas ultimamente estava meio disperso. Isso me preocupava demais.

E enquanto caminhava para minha sala, lembrei do meu primeiro dia no colégio.

FLASHBACK:

Eu estava grávida de quatro meses, nervosa e ansiosa. Entrei na sala, sentei na cadeira dos alunos e comecei a ler o material do curso. Estava nervosa porque nunca havia ensinado antes, apesar da formação.

Lembrei-me também dele, Alberto, que no primeiro dia, se apresentou com um sorriso e disse:

— Oi, bom dia! Pelo visto, somos os primeiros a chegar, não? Eu sorri para ele e respondi:

— Parece que sim.

— Nossa, que sorriso lindo! Muito prazer, Alberto! — disse ele esticando a mão.

— Prazer, Alberto. Anita — respondi, apertando sua mão.

— O nome combina com você, também é muito bonito! — falou ele sorrindo, sentando-se próximo de mim.

Percebi que ele tentava flertar, mesmo sendo tão jovem.

— Obrigada, Alberto. Gosto do meu nome. Foi minha mãe que escolheu, em homenagem a uma personagem histórica chamada Anita Garibaldi. Você conhece?

— Conheço! — respondeu ele com entusiasmo — Anita Garibaldi foi uma revolucionária incrível, líder em batalhas históricas no Brasil e na Itália. Por isso ela ficou conhecida como “Heróina dos Dois Mundos”.

Sorri e bati palmas para ele.

— Parabéns, Alberto. Exatamente isso! Por isso minha mãe me deu este nome, por ela admirar essa grande mulher.

— E por que sua mãe gostava tanto dela?

— Porque ela também era professora de História — respondi, deixando-o curioso.

Enquanto minha turma entrava e se sentava, levantei-me, foi quando Alberto percebeu que eu estava grávida, e me ajudou a levantar, segurando minha mão.

— Por que não me disse que estava grávida? — perguntou ele tímido.

— Tem algum problema? — perguntei, sarcástica e sorrindo.

— Não... só pensei que o pai do seu filho tem sorte.

Sorri ciente do flerte do garoto.Me dirigi ao quadro e escrevi meu nome em letras garrafais enquanto dizia:

— Muito prazer, turma! Sou Anita Pacheco Jeong, sua nova professora de História!

— Professora de História?! — perguntaram todos em coro.

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