Narrado por Anita
O sol da manhã entrava mais forte agora, iluminando partículas de poeira que dançavam no ar como pequenos diamantes. O som dos pássaros substituía o ritmo constante da chuva. Ríamos, um som leve e despreocupado que ecoava pelo bangalô. Pela primeira vez, me permiti imaginar um futuro – um futuro real, colorido, cheio de manhãs como aquela ao lado de Henrique. Um futuro sem a sombra constante do medo.
Enquanto nos vestíamos, a atmosfera era de uma intimidade doméstica deliciosa. Eu me sentia centrada, completa. Até que, ao me virar para pegar minha bolsa, Henrique me puxou de volta para seus braços.
Seu beijo não foi um simples adeus. Foi uma reignição da tempestade da noite anterior, um lembrete urgente e possessivo de tudo o que havíamos compartilhado. Suas mãos percorreram minhas costas, puxando-me para mais perto, e por um instante, tudo o que eu quis foi ceder, esquecer o mundo e afundar naquele homem mais uma vez.
Mas a razão, frágil e recente, falou mais alto.