Eu encaro meu próprio reflexo enquanto arrumo a alça do vestido pela terceira vez. Não sei se estou bonita. Não sei nem se importa. Só sei que preciso sair desta mansão sufocante. A boate parece um erro, mas um erro que me chama. Como se tivesse ficado alguma coisa minha presa lá dentro. Alguma lembrança. Algum pedaço de mim que ainda respira naquele lugar.
— Só vai — murmuro para o espelho. Minha voz soa cansada. Forçada.
Passo o batom sem muito cuidado. Não estou indo para ser vista. Estou indo para tentar lembrar.
Quando pego a bolsa, meu celular vibra. O nome dele aparece como uma marca em fogo na tela.
Caio.
Abro a mensagem.
Tive que resolver um problema. Não saia da mansão. Preciso que me espere.
Meu estômago revira. Ele sempre sabe o momento certo para estragar tudo.
Resolvo responder, e digito:
Eu vou com o Andrew. Estarei segura, mão ficarei até tarde.
Espero alguns segundos. A resposta vem seca, rápida, agressiva.
Hoje não é um bom dia pra sair. Fica onde eu mandei.
“Mandei”