Narrado por Leonid Raskolnikov
As paredes do hospital tinham cheiro de desespero. Um branco frio, impessoal, que não conseguia silenciar os gritos dentro de mim. Eu a via ali, imóvel, frágil como se fosse feita de cristal — não o tipo de fragilidade que sempre temi, mas aquela que nasce depois da guerra, quando o corpo sobrevive, mas a alma não sabe se deve voltar.
Meu nome foi chamado por um sussurro que ninguém mais ouviu. Mas eu escutei.
Escutei com o peito, com os ossos, com os pedaços de mim que nunca se curaram.
Zalea.
Ela piscou.
E naquele instante, eu soube o que era milagre.
Soube o que era quebrar por dentro de amor, não de dor.
As lágrimas vieram como avalanche. Eu, que fui criado para não sentir. Eu, que enterrei meus sentimentos junto aos corpos dos homens que precisei matar. Eu chorei.
Chorei porque ela voltou.
Me aproximei devagar, como se o chão pudesse ruir sob meus pés a qualquer instante. Sentei-me ao lado dela. Peguei sua mão, tão pequena, tão fria. Levei aos meus