Zalea Baranov
A noite havia passado, mas não levara nada com ela. A dor continuava alojada sob minha pele como um veneno que o corpo se recusa a expurgar. A mansão estava silenciosa — silêncio esse que não trazia paz, mas um tipo de aviso: tudo ainda estava por acontecer.
O espelho devolvia uma versão de mim que mal reconhecia. Lábios partidos, olhos vazios, a carne manchada pelos hematomas da última lição de Ivan Baranov. Ele dizia me amar. Dizia querer me proteger. Mas o amor dele era uma coleira apertada em minha garganta, e a proteção… bem, ela doía.
Zaiden Marevick.
Seu nome era um espinho cravado sob minha pele, mas não de dor — de lembrança. Era o calor num inverno interno, uma ameaça envolta em fascínio. Ele não sabia quem eu era, e talvez por isso me olhou como ninguém jamais ousou olhar. Sem julgamento. Sem controle. Apenas… viu. E ser vista doeu mais do que qualquer soco de meu pai.
Ao longe, o relógio ancestral da mansão marcou cinco horas da manhã. O tempo parecia zombar