Narrado por Zaiden Marevick
O frio da noite me cortou como lâmina ao cruzar a soleira do escritório. Peguei meu casaco sem dizer palavra, ignorando o calor da lareira ainda viva. O mundo lá fora era um deserto branco e silencioso — como a mente de um homem à beira da loucura. A cidade, indiferente à minha febre, dormia sob véus de neve. Mas eu, não.
Dentro de mim, algo queimava com mais força do que qualquer inverno poderia extinguir.
Ela.
A menina feita de silêncio e gelo.
Assim que meus pés tocaram o concreto gelado, o motorista abriu a porta com sua obediência habitual. Entrei sem fitá-lo, como se minha presença fosse uma sentença. A cabine do carro se encheu do meu silêncio.
— Para o clube de patinação — murmurei, minha voz mais sombra do que som.
Ele hesitou. Um breve segundo de vida entre as engrenagens da submissão. Mas não disse nada. Eles nunca dizem.
O carro deslizou pelas ruas congeladas. Luzes manchavam o vidro como fantasmas — vermelho, âmbar, branco — mas eu não enxergav