Narrado por Leonid Raskolnikov
Ela carregava nos olhos o vestígio de uma guerra que não terminava. A fronteira tênue entre o querer e o temer dançava em seu olhar com a mesma precisão com que um punhal reluz sob a luz da madrugada. Zalea era feita de silêncios doloridos e vontades contidas — e, mesmo sem tocar sua pele, eu a sentia inteira. Havia desejo. Havia medo. E havia a certeza de que ela já era minha, embora ainda resistisse ao nome dessa posse.
Ela ainda não sabia, mas não se joga com aquilo que pertence a um homem como eu. Eu não quebro o que desejo proteger. Eu não destruo o que chamo de lar.
Zalea era lar. Em sua forma mais torta, mais selvagem, mais ferida.
Ergui a taça, os olhos cravados nos dela como lâminas prestes a cortar as últimas amarras do receio.
— A nós, plamya.
Ela hesitou. Um instante, um suspiro contido, um passo para dentro da cova onde moram os sentimentos não ditos. E então, ergueu sua taça com mãos firmes demais para alguém que tremia por dentro.
— A nós