Narrado por Leonid Raskolnikov
As luzes do hospital ardiam como faróis trêmulos em meio à tempestade. A cada segundo, o monitor cardíaco de Zalea cortava o silêncio como uma navalha — seco, impiedoso. Os dois berços transparentes na UTI Neonatal, sob a vigília constante de máquinas, pareciam relicários frágeis. Dentro deles, repousavam não apenas meus filhos, mas tudo o que ainda me restava de fé, humanidade e temor.
Ela ainda estava desacordada.
E eu… eu era um homem suspenso. Entre a raiva e a impotência. Entre o que eu podia controlar e o que havia escapado de minhas mãos. Mas algo, lá no fundo, ardia — como um pressentimento antigo. Algo mais sujo que o destino, mais frio que o acaso. Aquilo não era apenas dor. Aquilo tinha sido provocado. Insuflado. Como uma maldição cultivada em silêncio.
E havia um nome.
Dione.
O nome dela martelava meu crânio como um prego enferrujado, arrastando lembranças que eu preferia manter enterradas. Zalea vinha recebendo cartas anônimas há semanas. Al