Não nasci ruiva. Me tornei.
Me tornei o tipo de mulher que faz você trair sua esposa em pensamento… antes mesmo de perceber. Que faz a aliança no seu dedo pesar como chumbo quando você olha pra mim. Que faz você querer pagar só pra ouvir a minha voz dizendo seu nome errado. O nome que uso não é o meu. Valentina. Para os homens que me pagam, Valentina é uma fantasia cara. Uma mentira bem contada com curvas perigosas e cabelos cor de pecado. Ruiva, mas não aquele laranja fake de salão barato. Meu tom é vinho escuro. Cor de sangue oxidado. Brilha como fogo quando a luz do quarto me acerta de lado. Minha pele? Quase leitosa. Com sardas espalhadas feito pontos de interrogação nas perguntas que ninguém ousa fazer. Disfarçadas com maquiagem, mas visíveis o suficiente pra lembrar que sou real… Mesmo parecendo um sonho com prazo de validade. Cintura de violão. Coxas de tentação. E uma boca moldada pra falar baixinho… ou fazer barulho, quando o silêncio já não basta. Mas o que realmente me torna inesquecível… é o olhar. Castanho mel com um toque de verde. Olhar que atravessa homens e os faz se sentirem nus, mesmo de terno. Acompanhante de luxo não é profissão. É camuflagem. É arte. É guerra. Não me tornei isso por falta de opção. Me tornei por escolha. Eu preferi ser paga para fingir… do que amar de graça e quebrar a cara de novo. Amor, pra mim, é um golpe que você deixa levar sabendo que vai sangrar depois. E eu sangrei demais pra me fazer de santa agora. ⸻ Tenho 28 anos. Mas já vivi como se tivesse 50. Carrego no corpo cicatrizes que ninguém vê. E na alma… um cofre trancado com segredos que matariam qualquer homem comum. Fui criada no subúrbio. Faltou tudo — menos coragem. A primeira vez que vendi uma noite, eu chorei sozinha no banheiro. Na segunda, já chorei por dentro. Na terceira, fingi tão bem que acreditei na fantasia junto com ele. Hoje, eu escolho com quem deito. E cobro caro pelo privilégio de ser usada. Mas essa história aqui… não é sobre os homens que me pagaram. É sobre o único que não me pagou. O único que não quis o meu corpo. Quis a minha verdade. E é por isso que ele quase me destruiu. Ele apareceu numa noite qualquer. Terno escuro, olhar calculado, mãos firmes demais pra serem só curiosidade. Disse que queria “conversar”. Ninguém paga doze mil reais por uma conversa. Mas ele pagou. E voltou. E cada vez que voltava, deixava uma parte de mim fora de controle. Com ele, minhas regras começaram a falhar. Meus muros começaram a rachar. Meu jogo… virou risco. Eu não sei o nome verdadeiro dele. Mas ele descobriu o meu. E agora, se eu quiser sobreviver, vou ter que decidir: Se continuo sendo Valentina… Ou se volto a ser Helena. Mas, se eu voltar a ser quem sou de verdade… Talvez eu nunca mais consiga fingir. E talvez… seja tarde demais pra amar alguém sem contrato, sem horário e sem proteção. ⸻ Essa sou eu. A mulher que cobra caro pra mentir. E que dessa vez… foi enganada pelo único homem que não quis comprar nada.