Moscou tinha deixado de parecer excitante.
Depois de Dante, tudo parecia um cenĂĄrio artificial. Luxo demais. Luz demais. Homens demais. Mas zero impacto. Valentina seguiu trabalhando. Seis clientes em quatro dias. Um banqueiro francĂȘs que sĂł queria conversar â e terminou chorando no ombro dela como um ĂłrfĂŁo carente. Um sheik que a tratou como porcelana, mas nĂŁo parava de falar da esposa. Dois irmĂŁos russos que tentaram transformar o quarto num ringue â e ela encerrou antes que virasse MMA. Teve tambĂ©m o herdeiro sueco da marca de relĂłgios. Com ele, ela gozou. RĂĄpido. E vazio. Como um espirro emocional. Ela estava funcional. Linda. CarĂssima. Mas o que Dante tocou nela⊠nenhum outro homem conseguiu alcançar. Na manhĂŁ do quinto dia, Victor entrou no quarto dela com uma bandeja de cafĂ© da manhĂŁ equilibrada como se fosse coroa de miss. â Levanta, Barbie. JĂĄ sĂŁo 11h e vocĂȘ tĂĄ com cara de quem dormiu com um trauma e acordou sem orgasmo. Ela sorriu. De canto. â Dormir nĂŁo Ă© mais o problema. Ă acordar sem vontade. Victor sentou na beirada da cama e começou a passar creme nas prĂłprias mĂŁos com calma exagerada. â Quer falar dele ou quer que eu finja que nĂŁo percebi que vocĂȘ virou personagem de novela mexicana? Valentina se sentou, de robe vinho escuro e cabelo bagunçado de propĂłsito. â SĂł queria entender. Por que ele nĂŁo apareceu mais? Nem uma mensagem. Nem um sinal. â Val⊠vocĂȘ quer resposta emocional de um homem que te fez gozar com o verbo? â ele riu, com desprezo teatral. â Dante Moreau Ă© o tipo de cara que transa com a atmosfera. Ele nĂŁo manda âoi sumidaâ. Ele manda helicĂłptero ou silĂȘncio absoluto. â Talvez eu sĂł precise de encerramento. â Ou talvez⊠vocĂȘ sĂł precise aceitar que foi fodida de um jeito que nĂŁo tem ponto final. SilĂȘncio. Ela pegou uma torrada. Mordeu sem fome. Victor puxou o celular do bolso e girou nos dedos como se fosse jogar truco. â Falando em pontos finais⊠chegou algo pra vocĂȘ. â De quem? â Dele. â ele virou a tela. Na tela, uma notificação simples. NĂșmero oculto. Sem nome. Sem saudação. đ© âQuarto 313. 23h. Sem maquiagem. Sem adereços.â Valentina prendeu a respiração. Victor a olhou com aquela cara clĂĄssica de âeu te aviseiâ. â Sem adereços? Ele quer a versĂŁo crua. A Valentina do batom vermelho apagado e dos olhos que nĂŁo escondem nada. Ela leu de novo. E mais uma vez. O mesmo quarto. â Quarto 313. Como da primeira vez. â ela sussurrou. Victor suspirou. â Esse homem Ă© uma religiĂŁo. E vocĂȘ tĂĄ indo pra missa. Valentina se levantou. Foi atĂ© a janela. Moscou lĂĄ embaixo brilhava como uma mentira bonita. â Eu nĂŁo sei o que ele quer. â NĂŁo quer saber? Nem eu. Mas se ele te deixar com essa cara de novo⊠eu vou atrĂĄs dele com um salto 12 e uma corrente de oraçÔes. Ela riu. Mas por dentro⊠ardia. Porque quando Dante pedia sem explicar, ela obedecia sem entender. E isso era o tipo de domĂnio que nenhuma transa barata conseguia apagar.