O corredor até o quarto parecia mais longo que nunca.

A cada passo, Valentina sentia o corpo ainda pulsar com lembranças do que aconteceu — ou do que Dante fez acontecer.

Digitou o código, entrou.

E já foi recebida por aquele cheiro familiar: perfume cítrico com ranço de base cara e sarcasmo embutido.

Victor.

De roupão. Máscara de argila no rosto. Taça de espumante na mão.

Sentado de perna cruzada como uma viúva rica julgando o testamento.

— Olha só quem voltou… Com cara de quem foi chupada pela alma. Me diz, foi exorcismo ou só mais um sugar daddy com boa pontaria?

Valentina rolou os olhos, largou os saltos no chão e foi direto pro frigobar.

— Victor… — suspirou.

— Não vem com “Victor” suspiroso pra cima de mim. Você tem glitter nos olhos. Você tá… leve. Eu odeio quando você fica leve. É o primeiro sintoma da paixão, e a gente combinou: você dá, cobra e some. Não se apaixona!

Valentina pegou uma água. Bebeu como se fosse vodka.

Victor a conhecia desde os 16.

Foi ele que segurou sua mão tremendo no primeiro job.

Foi ele que maquiou seu rosto suado de medo e disse:

— Você vai entrar nessa vida pela porta da frente. Cabeça erguida. E se sair… que seja com um salto de diamante.

Desde então, era irmão, mãe, stylist, terapeuta e confessor.

E quando ele via os olhos dela como agora…

sabia que ela tava fodida emocionalmente.

— Val… fala agora. Quem foi o macho que virou teu antivírus emocional?

Ela respirou. Soltou.

— Dante Moreau.

Victor engasgou com o espumante.

— Dante o quê?!

— Moreau.

— O bilionário que parece que foi desenhado pela Chanel com uma pitada de BDSM? Aquele que não tem I*******m, mas tem ações de metade das empresas do planeta?

— Esse mesmo.

Victor levantou, puxou o roupão dela.

— Você transou com ele?

— Quase. Ele… me fez gozar. Sem encostar.

— Ah pronto. Vai dizer agora que ele te fez levitar com a mente, igual Jedi?

— Não tô brincando. Ele falava. Me olhava. Me dirigia. Como se tivesse acesso direto à minha programação.

Victor arregalou os olhos, depois estreitou.

— Você tá me dizendo que caiu pelo bom e velho macho que comanda em silêncio?

— Victor… ele não comanda. Ele invade. Ele domina com presença. Alto, ombros largos, barba baixa, olhos cor de tempestade e um sotaque francês que faz a pele implorar por tradução simultânea.

Victor bufou.

— Jesus gay… é o Fifty Shades sem contrato. Val, a gente teve essa conversa mil vezes. Você é acompanhante. Você é luxo. Você cobra. Você não sonha com macho alfa silencioso que tem trauma de infância e te quer como válvula emocional.

— Eu sei.

— Não sabe! Tá com a cara de quem quer escrever o nome dele no vidro do carro embaçado. Vou comprar uma fita de LED escrito: “NÃO SE APAIXONE” pra colar na tua testa.

Valentina caiu na cama.

— Não é paixão. É… fascínio. Ele me viu antes de me tocar. E mesmo depois que gozei… eu ainda queria ficar. Só pra ele continuar me olhando.

Victor jogou a taça vazia na mesinha e cruzou os braços.

— E ele? Mandou mensagem? Mandou helicóptero? Mandou emoji?

— Nada. Silêncio. Como se tivesse cumprido uma missão.

Victor se sentou ao lado dela.

— Você sabe que silêncio também é dominação, né? Ele ainda tá te fodendo. Sem estar aqui.

Silêncio.

Valentina fechou os olhos.

— Eu sei.

Victor sussurrou, com aquele carinho camuflado de deboche:

— Só lembra, minha Barbie de luxo… que a gente só ama se for bem pago ou muito bem fodido. E se for os dois… a gente corre. Lembra disso.