A boutique mais exclusiva da cidade havia sido fechada especialmente para elas. Valentina
se encontrava no centro de um furacão de seda, renda e cristais, enquanto três costureiras trabalhavam em seu vestido de noiva sob a supervisão rigorosa de Adriana Blackwood. - Um pouco mais justa na cintura, - instruía Adriana, seus olhos críticos analisando cada detalhe. - Queremos realçar sua silhueta antes que a gravidez comece a aparecer. Valentina se encolheu ligeiramente. Ainda estava se acostumando com a ideia de que sua condição era conhecimento público na família, discutida abertamente como se fosse um investimento empresarial. - Sra. Blackwood, - começou hesitantemente, Mal nos conhecemos e... - não acha que estamos apressando as coisas? - Adriana, - corrigiu, aproximando-se com um sorriso que não chegou aos olhos. - E minha querida, quando você carrega um Blackwood no ventre, o tempo é um luxo que não temos. - Não entendo. Adriana dispensou as costureiras com um gesto elegante, esperando até ficarem sozinhas antes de continuar. - Nossa família tem... inimigos. Muitos inimigos. Um herdeiro Blackwood é um alvo desde o momento da concepção. O sangue de Valentina gelou. - Alvo? Você quer dizer... - Quero dizer que há pessoas que matariam para impedir que essa criança nasça. Pessoas que veriam a morte do futuro herdeiro como um golpe devastador contra nosso império. Adriana se aproximou, suas mãos se pousando gentilmente sobre os ombros de Valentina. - É por isso que o casamento deve acontecer rapidamente. É por isso que você precisa entender exatamente onde está entrando. - Talvez eu não queira entrar, - sussurrou Valentina, mas mesmo enquanto dizia as palavras, sabia que era tarde demais para recuar. - Oh, querida. - O sorriso de Adriana se tornou genuinamente caloroso pela primeira vez. A porta da boutique se abriu, e Isabella entrou como um furacão de energia jovem. - Adriana! Valentina! Como estão os preparativos? - Embora sua futura tia esteja tendo algumas... hesitações compreensíveis. - respondeu Adriana. Isabella se aproximou, seus olhos brilhando com malícia divertida. - Hesitações? Sobre se casar com o homem mais poderoso do país e se tornar praticamente uma rainha? - Não é assim tão simples, - protestou Valentina. - Claro que não, - concordou Isabella, sentando-se elegantemente numa poltrona. - É muito mais complicado e perigoso. Mas também é muito mais excitante. - Você fala como se fosse um jogo. - Não é? - Isabella inclinou a cabeça, estudando-a. - Você realmente acha que uma arquiteta comum conseguiria capturar completamente a atenção do tio Max? Você tem algo especial, Valentina. Algo que ele reconheceu instintivamente. - O que você quer dizer? - Quero dizer, - Isabella se levantou, caminhando até ela, - que você não é tão inocente quanto aparenta. Antes que Valentina pudesse responder, a porta se abriu novamente. Desta vez foi Maximiliano quem entrou, imponente em um terno cinza que realçava seus olhos penetrantes. - Como estão meus três anjos? - perguntou, mas seus olhos estavam fixos apenas em Valentina. - Seu anjo está tendo dúvidas, - informou Isabella com um sorriso travesso. Os olhos de Maximiliano escureceram ligeiramente. - Dúvidas sobre o quê? - Sobre tudo, - admitiu Valentina, descendo do pedestal onde estava sendo provada. - Sobre este casamento, sobre sua família, sobre o que estou me tornando. - Você está se tornando minha esposa, - disse ele, aproximando-se. - A mãe do meu herdeiro. A rainha do meu império. - E se eu não quiser ser rainha de um império construído sobre... - Sobre o quê? - Sua voz era perigosamente baixa. Valentina engoliu em seco, mas forçou-se a continuar. - Sobre poder obtido através de meios questionáveis. - Sobre coisas que podem ser ilegais. O silêncio que se seguiu foi tenso. Adriana e Isabella trocaram olhares significativos, mas permaneceram caladas. Finalmente, Maximiliano falou, sua voz controlada mas carregada de autoridade: - Minha querida Valentina, você tem uma visão muito ingênua do mundo. Não existe poder limpo. Todo império foi construído sobre sangue, suor e decisões difíceis. - Certo ou errado são luxos filosóficos, - interrompeu Adriana. - Sobrevivência é realidade e nossa família sobreviveu e prosperou porque entendemos isso. Maximiliano se aproximou ainda mais, suas mãos enquadrando o rosto de Valentina. -você quer saber a verdade sobre quem somos? Sobre o que fazemos? Ela assentiu, mesmo sabendo que a resposta poderia mudar tudo. - Controlamos o fluxo de informações desta cidade. Políticos, juízes, empresários - todos devem favores à família Blackwood. Construímos um império onde nossa palavra é lei, onde nossos inimigos simplesmente... desaparecem. - Você está me dizendo que... - Estou te dizendo que sou o rei não coroado desta cidade. E você, - seus polegares acariciaram suas bochechas, - você vai ser minha rainha. - E se eu recusar? O sorriso que curvou seus lábios foi predatório. - Você não vai recusar. Porque já provou do poder, Valentina. Já sentiu como é estar acima das regras comuns. E porque, - sua voz baixou para um sussurro íntimo, - você me ama. A verdade naquelas palavras a atingiu como um soco. Ela o amava. Desesperadamente, completamente, mesmo sabendo dos riscos. - Eu te amo, - admitiu, as palavras saindo como um suspiro derrotado. - E eu te amo, - respondeu ele, selando a declaração com um beijo que fez todas as suas dúvidas evaporarem temporariamente. - Mais do que jamais amei qualquer coisa. É por isso que vou proteger você e nosso filho com cada fibra do meu ser. Quando se separaram, Valentina viu algo diferente nos olhos dele - uma vulnerabilidade que ele raramente mostrava. Por um momento, não era o magnata implacável ou o rei sombrio da cidade. Era apenas um homem apaixonado e desesperadamente protetor. - O casamento será em dez dias, - anunciou Adriana, quebrando o momento íntimo. - A cerimônia será na mansão, apenas família e aliados próximos. - Aliados? - perguntou Valentina. - Pessoas cujo apoio é essencial para nossa... estabilidade, - explicou Isabella. - Políticos, empresários, alguns juízes. Pessoas que precisam ver que os Blackwood continuam fortes e unidos. - É uma demonstração de poder, acrescentou Maximiliano. E que tipo de vida nosso filho terá? - perguntou Valentina, sua mão instintivamente indo para o ventre ainda plano. - A melhor vida possível, - respondeu Maximiliano com convicção absoluta. - Educação nas melhores escolas, proteção constante, acesso a oportunidades que a maioria das pessoas nem sonha. - Mas também será um alvo, - lembrou Adriana suavemente. - Como todos nós somos. É por isso que começamos o treinamento cedo, - disse Isabella casualmente, como se estivesse falando sobre aulas de piano. - Treinamento? - Valentina sentiu um arrepio. - Autodefesa, consciência situacional, como identificar ameaças, - explicou Maximiliano. - Habilidades necessárias em nosso mundo. - Vocês estão falando de criar uma criança como se fosse um soldado. - Estamos falando de criar um sobrevivente, - corrigiu Adriana. - Alguém que possa não apenas herdar nosso império, mas expandi-lo. A realidade do que estava acontecendo finalmente atingiu Valentina com força total. Não estava apenas se casando com um homem rico - estava entrando numa dinastia que operava pelas próprias regras, onde poder e perigo eram companheiros constantes. - Preciso de ar, - murmurou, dirigindo-se para a saída. - Valentina, - chamou Maximiliano, mas ela já estava empurrando a porta. Do lado de fora, respirou fundo o ar da cidade, tentando processar tudo. Uma limusine preta estava parada na calçada, e um homem de terno escuro se aproximou. - Sra. Moreira? Sou Marcus, seu novo guarda-costas. - Meu o quê? - Sr. Blackwood achou melhor intensificar a segurança, considerando sua... condição. Valentina olhou ao redor e notou outros homens posicionados estrategicamente na rua. Todos discretos, todos claramente armados, todos observando-a. - Quantos de vocês há? - perguntou. - Suficientes, -respondeu Marcus diplomaticamente. A porta da boutique se abriu e Maximiliano saiu, aproximando-se com expressão preocupada. - Você está bem? - Estou sendo seguida por um exército particular, respondeu ela. - Como posso estar bem? - Você está sendo protegida, - corrigiu ele. - Há diferença. - Para você, talvez. Maximiliano suspirou, passando as mãos pelos cabelos. - Sei que não é a vida que você imaginou para si mesma. - Não, não é. - Mas é a vida que você tem agora. - E se eu fugir? - perguntou, testando-o. A expressão dele se endureceu instantaneamente. - Não fará isso. - Como pode ter tanta certeza?" - Porque você me ama. Porque carrega meu filho. E porque, - ele se aproximou, sua voz baixando para um sussurro ameaçador, - eu a encontraria. Sempre. Não era uma promessa romântica - era uma declaração de propriedade absoluta. E o mais perturbador era que isso a excitava tanto quanto a assustava. - Entre no carro, - ordenou. Vamos para casa. - Qual casa? O apartamento não é meu. - Nossa casa, - corrigiu ele. - Porque tudo que é meu agora é seu também. Incluindo os perigos. Durante o trajeto de volta, Valentina observou a cidade através das janelas blindadas da limusine. - Maximiliano, - disse finalmente. - Sim? - Se vamos fazer isso, se vou ser sua esposa e a mãe do seu herdeiro, preciso saber de tudo. Não quero mais segredos, não quero mais meias verdades. Ele estudou seu rosto por longos momentos. - Tudo pode ser... perturbador. - Já estou perturbada. Pelo menos deixe-me estar perturbada com a verdade completa. Um sorriso lento se formou em seus lábios - não o sorriso predatório que ela conhecia, mas algo genuinamente admirativo. - Muito bem, - concordou. - Esta noite, depois do jantar, eu te mostro exatamente quem são os Blackwood. E depois disso, não haverá mais volta. - Não há volta desde a primeira noite em que nos encontramos, - respondeu ela com uma honestidade brutal. - Não, - concordou ele.