Mundo de ficçãoIniciar sessãoEntre reinos ameaçados pela escuridão e segredos que podem mudar destinos, Lya precisa descobrir até onde vai sua coragem — e quanto está disposta a sacrificar por amor e pelo futuro de seu povo. Uma trama de magia, paixão e guerra, onde cada escolha pode salvar… ou condenar tudo.
Ler maisDemorei a entender que não viveria os sonhos que sonhei para mim. Não por falhas minhas, mas por escolhas de outras pessoas.
Passei dias me perguntando: por que eu? Quantas garotas, neste exato momento, não devem estar sonhando com a vida que estou prestes a viver? Eu pensava nisso a cada segundo, e ainda assim não encontrava respostas. Dentro de algumas horas partirei rumo a uma nova vida. Não sei se serei feliz... ou se apenas sobreviverei ao que está por vir. — Lya? Não podemos nos atrasar, a viagem é longa! A voz da minha mãe veio acompanhada do som das cortinas se abrindo. A luz invadiu meu quarto sem pedir licença. Nos últimos tempos, sua missão de vida parecia ser me convencer de que eu seria feliz, de que tudo não passava de uma bênção de Deus. Eu queria acreditar. Levantei-me devagar, arrastando os pés, mas ao mesmo tempo me apressei — a pressa da obrigação, não do entusiasmo. Assim que pegamos a estrada, percebi que minha história acabava de começar. E se eu não quisesse divergências, teria de escrevê-la com minhas próprias mãos. Nasci em Illianum — minha terra, meu lar, o lugar que amo. Meu pai e minha avó morreram em combate quando eu ainda era criança. Venho de uma longa linhagem de fadas guerreiras e herdei os poderes de minha avó. Desde cedo aprendi a lutar, a proteger, e meu coração se enchia de esperança ao pensar que, quando crescesse, seria guardiã de minha terra. Quando completei doze anos, meu reino firmou um acordo com o Reino Novo: unir seus filhos em matrimônio, criando assim o maior e mais poderoso reino do mundo. De início, aquilo me assustou. Depois, a ideia de ser guardiã de algo tão grandioso me encheu de orgulho. Passei a treinar com ainda mais determinação. Meu destino parecia perfeito. Mas nem tudo seguiu como eu imaginava. A princesa Samirá, que já se preparava para conhecer os príncipes do Reino Novo, adoeceu de repente, sem explicação. Seu estado piorava a cada dia. O rei Josafá e a rainha Bárbara moveram céus e terras para salvar a filha. Em vão. Quatro meses depois, numa manhã fria, Samirá não acordou. Todo o reino mergulhou em tristeza. A alegria desapareceu das ruas, os músicos silenciaram seus instrumentos e até o céu parecia ter se vestido de cinza. Com o tempo, a fraqueza de Illianum se tornou evidente. Saqueadores e reis inimigos passaram a rondar nossas fronteiras, como abutres à espera da presa. O medo tomou conta do povo: portas trancadas, mercados vazios, famílias inteiras fugindo em busca de um futuro menos incerto. Por um momento, cheguei a acreditar que o rei Josafá havia se rendido à própria sorte. Mas logo ele se levantou. Pior do que perder a filha seria perder o reino — e ver as lágrimas de seu povo substituírem para sempre a antiga alegria. Sem a princesa Samirá, o acordo do casamento real não poderia ser concluído. Illianum estava vulnerável demais para abrir mão da aliança com o Reino Novo. Restava ao rei encontrar outra saída. Foram muitas noites em claro, conselhos intermináveis, estratégias debatidas até a exaustão. O futuro de Illianum pendia de um fio, e Josafá sabia que sua próxima decisão definiria se ainda haveria esperança... ou apenas cinzas. O rei Josafá chegou à nossa casa numa tarde chuvosa. Sua capa pingava no chão, e os olhos, pesados, pareciam carregar o peso de um mundo inteiro. Minha mãe não me permitiu participar da conversa, mas de longe percebi quando ambos choraram. Aquela cena me deixou agitada. Como todos em Illianum, eu tinha pressa em saber o que seria feito do nosso reino. O futuro parecia escorregar das minhas mãos, e já não havia certeza de que eu seria guardiã. Meu coração disparou quando minha mãe me chamou: — Lya, querida... seu tio deseja falar com você. Curvei-me diante do rei Josafá. Apesar de ser meu tio, nossas famílias haviam se afastado. Ele nunca perdoara minha mãe por se casar com meu pai, contrariando os planos que tinha para a princesa Aila. Ainda assim, havia respeito. Sentei-me para ouvi-lo. — Após muitas reuniões, chegamos à conclusão de que o parente vivo mais próximo dos reis deve se casar com um dos príncipes do Reino Novo, disse ele, a voz grave, mas embargada. Essa pessoa... é você, Lya. O mundo girou ao meu redor. Senti meu rosto arder, minhas mãos tremerem, a boca seca. Permaneci imóvel, como se não tivesse ouvido direito. — Só você pode salvar o reino, filha. — acrescentou minha mãe, com uma certeza que parecia mais um empurrão do destino. Eu havia sido treinada a vida toda para proteger Illianum. Mas casar-me com um estranho? Isso parecia um sacrifício cruel demais. Permaneci em silêncio, enquanto eles discutiam prazos e detalhes, como se minha vida já tivesse sido decidida. Vinte dias. Esse seria o tempo até partirmos para o Reino Novo. Ao chegar lá, eu teria apenas trinta dias para conhecer os três príncipes, criar algum vínculo — e escolher ou ser escolhida. Muita coisa para pouco tempo. Quando o sol se escondeu, deitei-me exausta. Da janela, vi os pássaros retornando à floresta de jasmins depois de um longo dia. Aquela visão, tão única de Illianum, parecia ainda mais preciosa. Em breve, não a teria mais. E só então percebi o quanto sentiria falta da minha terra.A noite havia se adiantado, e os últimos preparativos da cerimônia seguiam sob uma calma encantadora. Enquanto costureiras ajustavam detalhes dos trajes e conselheiros afinavam discursos, Lya se retirou por um momento dos salões iluminados. Seguiu por um corredor tranquilo até um dos jardins internos do castelo, onde as flores noturnas exalavam perfumes sutis e a lua banhava tudo com sua luz prateada.Aila estava lá, sentada em um banco de pedra sob uma árvore florida, como se já soubesse que a filha viria.Lya parou por um instante antes de se aproximar, observando a silhueta da mãe sob o luar. Seu coração bateu forte com a memória das noites em Illianum, quando ela corria para os braços da mãe depois de um pesadelo, e Aila a embalava, cantando baixinho.— Sabia que te encontraria aqui — disse Lya, sentando-se ao lado dela.Aila sorriu, mas não respondeu de imediato. Apenas pegou a mão da filha e a apertou com carinho, como fazia quando Lya era criança.— Você está linda... e tão for
O vento soprava suave pelas montanhas de Illianum, balançando as cortinas claras do salão real. A alvorada mal havia rompido o céu quando a comitiva começou a se reunir. A carruagem real estava pronta, enfeitada com símbolos de prata e folhas encantadas que cintilavam ao sol. O reino inteiro estava em festa — não apenas pela união da fada, mas pelo prestígio que aquele casamento trazia a todo o povo das fadas guerreiras.A mãe de Lya observava as preparações com olhos marejados. Apesar da saudade que já sentia da filha, havia orgulho em cada gesto seu.— Nunca imaginei que o dia do casamento de Lya me deixaria tão... inquieto — ele murmurou, ajeitando os punhos dourados de sua túnica cerimonial.— Ela nasceu pronta para liderar, meu irmão, vejo isso a cada instante, a cada carta que recebo tenho mais certeza.A porta se abriu e a rainha Barbára entrou. Usava um vestido azul profundo como o céu antes da noite e levava consigo um relicário nas mãos.— Trouxe isso para ela — disse, com a
O salão menor do castelo tinha sido liberado só para nós dois. Ali, onde normalmente os mestres de protocolo discutiriam cada detalhe da cerimônia, agora havia silêncio. As cortinas pesadas escondiam a noite, e a única luz vinha das velas espalhadas pelos candelabros e estantes. A chama tremulante projetava sombras quentes nas paredes, como se até o fogo quisesse participar daquilo.Olhei para a mesa diante de mim: pergaminhos com croquis dos trajes reais, opções de flores, receitas de pratos tradicionais de Illianum e do Reino Novo. Tudo misturado, como se fosse possível unir dois mundos com tinta e papel.Sorri, sem acreditar no que estava acontecendo.— Eu não acredito que vamos mesmo fazer isso. — Enrolei uma mecha de cabelo entre os dedos, tentando disfarçar a estranha mistura de ansiedade e alegria que corria dentro de mim. — Quando tudo começou, parecia impossível.Do outro lado da mesa, Benício riu baixinho, os olhos presos em um esboço do altar decorado com folhas douradas.—
O castelo parecia ter se transformado em outro mundo naquela noite. Cortinas de veludo escarlate pendiam dos grandes arcos de pedra, os lustres cintilavam com centenas de velas flutuantes, e os salões estavam tomados por nobres de todos os cantos do Reino Novo.O Baile dos Nobres acontecia apenas uma vez por ano — uma celebração da paz entre os reinos aliados, mas também, segundo os rumores que corriam pelos corredores, uma vitrine para alianças políticas... e para os casamentos mais estratégicos.Eu usava um vestido azul profundo como o céu noturno, bordado com fios prateados que imitavam constelações. Meus cabelos caíam soltos em ondas, presos apenas por um adorno delicado de pérolas e folhas. Anne e Julia me ajudaram a me preparar, cada uma lançando olhares cúmplices, especialmente quando o nome de Benício era mencionado.Desci as escadas do grande salão com o coração acelerado. Meu plano era claro: assim que o encontrasse, puxaria Benício para um canto e contaria tudo — sem rodeio
O sol já estava alto quando deixamos o castelo. Julia, animada como sempre, falava sobre os locais que gostaria de me mostrar — mercados de ervas, becos com cafés escondidos e uma praça onde crianças treinavam esgrima com bastões de madeira. Anne caminhava ao meu lado em silêncio, como se estivesse absorvendo tudo, protegendo-me tcom o olhar atento que só uma amiga leal saberia oferecer.Usei um vestido simples, azul-acinzentado, sem adornos. Me senti estranhamente livre ao não carregar nenhum símbolo real. Era só eu — Lya. Uma jovem, uma fada, alguém tentando entender seu coração.As ruas estavam mais vivas do que eu esperava. Vendedores anunciavam frutas frescas e tecidos coloridos, crianças corriam entre as carroças, e o aroma de pães recém-saídos do forno invadia tudo.— Olha ali! — Julia apontou animada. — Eles estão plantando uma nova horta pública. O príncipe organizou isso para as viúvas da vila.Sorri com a iniciativa, mas não esperava sentir o que senti a seguir.Ao me aprox
Meus olhos se fecharam, e me vi em um limbo. Estava na minha terra. Não sabia com exatidão a idade que tinha, mas ouvia claramente a voz de meu pai ecoando firme:— Mais alto, Lya! Belas flores não vão te salvar de um inimigo implacável e cruel.Eu o olhava sem entender, mas obedecia fielmente. Bati minhas asas com toda a força, subindo mais e mais, até que já não conseguia enxergá-lo lá embaixo. A sensação de liberdade invadia meu peito, e naquele instante percebi que jamais poderia viver sem aquilo: o céu, o vento, o voo.Quando abri os olhos, estava de volta ao quarto de pedra. Uma única janela deixava entrar a visão de um pequeno jardim interno. Uma tristeza sufocante tomou conta de mim, acompanhada da dúvida e do medo de estar sendo usada como peça em um jogo maior do que eu. As lágrimas vieram sem pedir licença, e eu não tentei contê-las.Ouvi batidas na porta, mas não respondi.— Princesa? — A voz de Benício preencheu o quarto.Fechei os olhos com força. Eu não queria que ele m





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