Capítulo 5

Uma escolha será feita!

Quando? Impossível prever.

À minha frente, todos parecem correr contra o tempo, enquanto eu me sinto parada, como se fosse apenas uma expectadora da vida, ociosa em meio à pressa alheia.

Caminhava em silêncio ao lado de Benício. Meus pensamentos, dispersos, voavam para lugares estranhos, sem sentido algum. A pergunta que mais me atormentava era simples: por que ele me convidara para um passeio, apenas para permanecermos mudos, envoltos nesse silêncio que me sufocava?

— Vou te levar para conhecer a cidade. — sua voz soou como alívio. — Fiquei encantado com seu poder de criar flores... quero te mostrar um lugar especial.

Agradeci aos céus por ele ter quebrado o silêncio de forma tão natural. Olhei-o de relance: o sol tocava seus cabelos negros, que dançavam com o vento. Seus olhos azuis, entreabertos, refletiam uma sensibilidade que não combinava com o porte firme de príncipe. Eu estava distraída, perdida na cena, até que percebi sua voz chamando meu nome:

— Lya?

— Perdão... — respondi, ruborizada.

Ele sorriu.

— Como você se sente? — perguntei, tentando retomar a conversa.

Ele franziu o cenho, sem entender. Completei:

— Em ter que, talvez, se casar tão depressa... e com alguém que mal conhece.

Benício suspirou leve, mas sorriu, como quem já havia refletido sobre aquilo inúmeras vezes.

— Não encaro como uma obrigação, porque não é. Também não vejo como algo ruim. Casamento... jamais poderia ser algo ruim.

Havia uma firmeza calma em seu olhar, como se para ele tudo fosse natural, como se o destino sempre tivesse estado em suas mãos. E naquele instante, pensei em Samirá. Talvez ela também enxergasse dessa forma. Ela deveria estar aqui...

— Chegamos — anunciou.

Diante de mim estava o Jardim Colorido do Reino Novo, um dos maiores símbolos daquele lugar. Benício caminhava orgulhoso.

— Aqui, grandes decisões foram tomadas. Primeiro pela minha avó, depois pelo meu pai.

Meus olhos vagaram pelo cenário: flores de todas as cores se misturavam em um espetáculo vibrante. Árvores frondosas, algumas em tons impossíveis, faziam o jardim parecer tecido por pinceladas divinas. E então, a poucos metros de nós, um lago me fez prender a respiração: suas águas eram vermelhas como sangue, cintilando sob a luz.

— Você gostou? — perguntou ele, ansioso, quase nervoso, tão diferente do príncipe sarcástico que eu conhecera.

— É lindo. Nunca vi águas assim... como ficam dessa cor?

Ele me conduziu para nos sentarmos sobre a grama violeta, à beira do lago.

— A água em si é transparente, mas o fundo é coberto por rubis. Veja.

Inclinei-me e, através da superfície, pude contemplar pedras preciosas de todos os tamanhos, que transformavam o lago em um espelho carmesim.

— Meu irmão William nasceu aqui mesmo, sob aquela árvore. — apontou para uma imensa castanheira. — Ela foi plantada no dia em que ele veio ao mundo.

Sorri. A árvore parecia tão comum em meio ao esplendor do jardim, mas talvez por isso mesmo se destacasse: era o símbolo vivo de um nascimento, de raízes e de continuidade.

— Me sinto acolhida aqui. — As palavras escaparam de meus lábios antes mesmo que eu pudesse pensar. Mas eram a mais pura verdade.

— É assim que quero que você se sinta sempre. — Benício respondeu, sua voz baixa, quase um sussurro que parecia carregar promessas. — Lya?

Olhei-o atentamente, esperando que continuasse.

— Você já se apaixonou?

Sorri de leve, baixando o olhar para disfarçar a súbita onda de calor em minhas faces.

— Não... honestamente, não sei sequer como é sentir paixão.

Movi as mãos suavemente e, como resposta ao meu coração inquieto, flores começaram a brotar e flutuar ao nosso redor. Benício as observava com fascinação, seus olhos azuis cintilando como se refletissem a própria magia. Quase sem perceber, minhas mãos passaram a formar flores da cor exata daqueles olhos.

— E você? — perguntei, mantendo meu olhar preso ao dele.

Ele respirou fundo antes de responder, e sua voz trouxe um peso diferente, quase um segredo:

— Eu me apaixonei...

Antes que eu pudesse indagar mais, o som firme de cascos cortou o ar. Benício virou-se, atento, até que dois cavalos se revelaram entre as árvores. O primeiro, de pelagem negra e porte imponente, trazia Joaquim. O animal, robusto e forte, impunha respeito tanto quanto seu dono, o príncipe guerreiro. O segundo, menor e de aspecto dócil, carregava William com natural elegância, refletindo perfeitamente o perfil mais meigo e afável do jovem príncipe.

Eles desmontaram com suavidade, e ao se aproximarem, inclinaram-se diante de mim em sinal de respeito. Instintivamente, levantei-me para retribuir o gesto, e Benício fez o mesmo ao meu lado.

— Que prazer encontrar vocês! — disse sorridente.

William foi o primeiro a se aproximar. Um sorriso encantador iluminava seu rosto quando tomou minha mão com firmeza e, num gesto que me pegou de surpresa, depositou um beijo sobre ela.

Em seguida, Joaquim reproduziu o gesto do irmão. Segurou minha mão firme entre as dele, e seus olhos, de um azul profundo, demoraram-se nos meus.

— Estava procurando você para um passeio esta tarde. O que acha? — perguntou, sem pressa, como se já soubesse minha resposta.

Olhei de relance para Benício, que se mantinha em silêncio enquanto William lhe contava algo em tom baixo, animado demais para que eu pudesse compreender. Voltei meu olhar para Joaquim e sorri.

— Claro, te espero em meu quarto.

— Tudo bem, preciso resolver algumas coisas e depois te encontro lá. — Ele sorriu, e antes de soltar minha mão, acrescentou: — Benício, leve a fada em segurança para o castelo.

Benício arqueou as sobrancelhas e riu, como se provocasse o irmão.

— Mas isso, Joaquim... só quem conseguiria mesmo seria você.

Ri junto com eles, tentando imaginar como era a relação entre os três. Um vínculo de irmãos, e ao mesmo tempo... rivais. Pois no fim, apenas um deles poderia se casar — e dessa escolha viria o novo rei do reino. Uma pressão imensa para todos nós, e eu já começava a sentir seu peso.

Minutos depois, William e Joaquim se despediram, deixando-me novamente a sós com Benício. Caminhamos de volta ao castelo. Ele manteve-se em silêncio durante quase todo o percurso, e não entendi o motivo — seus pensamentos pareciam distantes.

Assim que cheguei ao meu quarto, encontrei uma bandeja de frutas frescas à minha espera. Sentei-me faminta e saboreava uma maçã quando Julia entrou, curiosa.

— Como foi? — perguntou, sorrindo enquanto me observava.

— Foi bom... mas passamos pouco tempo sozinhos. Logo Joaquim chegou acompanhado por William. — respondi, tentando soar neutra.

Julia mordeu um morango e arqueou as sobrancelhas.

— Tem muitos comentários sobre você e Joaquim pelo castelo. Dizem que ele já está apaixonado. — sorriu divertida, enquanto eu quase me engasgava.

— Apaixonado? — repeti, assustada.

— Benício comentou algo naquela noite do baile... agora faz sentido.

— O que ele disse?

— Que o interesse era mútuo. — Julia me encarou com malícia. — Como se também estivesse encantada por Joaquim.

Olhei para a janela, onde o sol dourava o céu. Os dias aqui eram mais belos do que em qualquer lugar que eu já conhecera, mas mesmo assim a saudade de casa ainda latejava em mim. Pensei em Ane. Com tantos compromissos, quase não conseguíamos conversar.

— Julia, você pode chamá-la para mim? — pedi.

Ela assentiu, e minutos depois retornou com minha amiga. Levantei-me num salto para abraçá-la. Como senti sua falta! Mas, em seus olhos, percebi que ela devia sentir-se ainda mais sozinha do que eu.

— Oi, amiga. — disse, puxando-a para o sofá. — Pegue uma fruta, vamos conversar.

— Estou amando estar aqui. Ontem foi tudo tão lindo... você estava radiante. — respondeu Ane, escolhendo um morango.

— Você também estava linda. Conheceu alguém especial? — perguntei, divertida.

— Ainda não, mas sei que logo vai aparecer. — riu.

Conversamos por horas, como nos velhos tempos. Contei-lhe meu dilema com os príncipes, e Ane, como sempre, ouviu com paciência e me aconselhou com sabedoria. Só percebi o tempo voar quando bateram à porta — Joaquim.

Abri e o encontrei ali, esperando. Não estava muito diferente de mais cedo: cabelos soltos que caíam em ondas douradas, espada às costas e uma aura de determinação que parecia inseparável dele. Curvei-me e ele retribuiu o gesto com respeito.

— Desculpe a demora, tive mais coisas a resolver do que imaginei.

Sorri, sem coragem de admitir que nem percebera o tempo passar.

— Não se preocupe. Passei as últimas horas com Ane, foi um tempo precioso.

Ele apenas assentiu, e juntos seguimos em silêncio até o jardim do castelo. Lá, nos sentamos entre árvores e flores, cercados pelo canto suave dos pássaros.

— Quero te conhecer melhor. — disse Joaquim, fitando-me com intensidade.

— O que você quer saber? — perguntei, tentando disfarçar a ansiedade. No mesmo instante, flores brotaram em meu colo, denunciando-me.

Ele arqueou um sorriso curioso.

— Como elas surgem?

— É meu poder de fada. — expliquei, mostrando-lhe com as mãos. — Elas nascem quando quero... mas também quando não quero.

Joaquim riu, encantado, quando fiz algumas flores coloridas se entrelaçarem à sua espada.

— Eu amei. — confessou. — Sempre pensei que seu dom viesse de sua mãe, mas vejo que me enganei.

— É de meu pai. Ele tinha poderes sobre a água. Minha avó, sobre o fogo. Minha mãe, não. — baixei a voz. — Passei pouco tempo com eles, mas a luta... a luta sempre foi minha paixão.

— Então, será difícil para você abrir mão dela? — perguntou.

— Sim. Mas vale a pena pelo meu reino. — sorri. — E você? Quero saber mais sobre quem é Joaquim.

Ele ajeitou a postura, fitando o horizonte.

— Não há muito o que contar. — disse com certa resistência.

Mas antes que eu pudesse insistir, uma voz masculina ecoou atrás de nós:

— Joaquim?

Assustada, virei-me. Um homem alto, forte, segurando uma espada, aproximava-se. O suor escorria em seu rosto.

— Tudo bem, Pablo? — perguntou Joaquim, erguendo-se de imediato.

O rapaz assentiu, mas desviou os olhos para mim com desconforto.

— Precisamos de você na arena de lutas. Seu pai está lá.

O semblante de Joaquim mudou instantaneamente. Sua preocupação era evidente.

— Estarei lá em instantes. — respondeu firme.

Pablo afastou-se apressado, e então Joaquim voltou-se para mim.

— Vou te levar de volta ao castelo. Depois, prometo que teremos mais tempo assim.

— Posso ir com você. Sou uma guerreira, talvez possa ajudar.

Ele segurou minha mão, seu olhar intenso e protetor.

— Não. Não sei o que me espera lá, e jamais me perdoaria se algo lhe acontecesse. Confie em mim, vou te contar tudo depois.

Assenti, contrariada, e retornei sozinha ao castelo. Tentei me acalmar em meu quarto, mas a inquietação queimava em mim. Pensei em abrir minhas asas e voar pelo reino, mas uma fada cruzando os céus não passaria despercebida. Desisti. Ainda assim, não suportava ficar parada. Saí do quarto decidida a descobrir o que estava acontecendo.

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