Conforme os dias passavam e o reino tomava conhecimento do acordo, as visitas começaram. Os mais velhos vinham até minha casa com presentes para o enxoval e palavras de sabedoria; os mais jovens apareciam para me felicitar e agradecer. A notícia trouxe de volta a alegria às ruas de Illianum.
Eu sorria, feliz em ajudar meu povo... mas por dentro a tristeza me corroía. Estava prestes a deixar minha terra, meus costumes, minha vida. Minha mãe sempre dizia: "Tudo se encaixará, Lya. Esse é o seu verdadeiro destino." Eu acreditava nela. Mas acreditar não significava estar pronta para ser feliz. — Quando você vai? — perguntou Ane, minha melhor amiga. Trabalhava em nossa casa e, juntas, ensinávamos as crianças do reino a ler e escrever. Era como uma irmã para mim. — Faltam alguns dias... acho que oito. — respondi, olhando para o céu. Depois, com um meio sorriso, arrisquei: — Você poderia ir comigo. Ane arregalou os olhos. — Os reis nunca permitiriam. E... o que eu faria lá? — Seria minha companhia. Uma noiva precisa de uma dama de companhia, não é? — brinquei, tentando esconder a ansiedade. — Se eu pedir, eles vão deixar. Mas... você quer ir? O vento da tarde brincava com meus cabelos vermelhos, cobrindo meu rosto. O sol estava quente, mas acolhedor. Eu queria guardar na memória cada detalhe daqueles últimos dias em Illianum. — Quero! — Ane respondeu sem hesitar. Sorri pela primeira vez em muito tempo. Pelo menos eu não estaria sozinha naquela nova vida. — Hoje mesmo vou falar com meus tios. Então se prepare! — falei, animada. Ane riu, e percebi um brilho em seus olhos: sua mãe era do Reino Novo, e ela sempre sonhara em conhecer aquela terra. Para ela, a viagem era promessa de descobertas. À noite, pedi a meu tio e à rainha que Ane fosse comigo. Para minha surpresa, permitiram sem grandes objeções. Mal saí do palácio, corri para contar a novidade à minha amiga. Os dias seguintes passaram rápidos demais. Meus treinos de luta foram suspensos e substituídos por intermináveis aulas de etiqueta. Não era algo que me incomodasse, eu já conhecia aquelas regras, mas aos poucos comecei a sentir que deixava de ser quem eu realmente era. Cada reverência, cada gesto treinado parecia arrancar um pedaço da minha essência. E assim, passei a maior parte do tempo tentando não pensar no futuro... e muito menos em como seria minha vida no Reino Novo. — Hoje falaremos sobre os príncipes do Reino Novo. Afinal, um deles será seu futuro marido. É importante que os conheça. — Eu só sei os nomes... — respondi baixinho. — Joaquim, o guerreiro. William, o curandeiro. E Benício, o inventor. Minha professora ajeitou o véu nos cabelos e assentiu com um ar sério. — Sim. Joaquim é o mais velho, tem vinte e oito anos. Um guerreiro poderoso, carinhoso com a família e dedicado ao reino. Mas cuidado... tem temperamento explosivo, se irrita com facilidade. Ainda assim, é o herdeiro mais cotado ao trono. Fiz uma nota mental: guerreiro forte, mas estourado. — William, continuou ela, tem vinte e seis. O segundo príncipe. É tímido, reservado... mas possui uma alma bondosa. Estuda medicina com a rainha Susana e vive entre o povo, curando e ajudando os necessitados. Um coração doce, escondido atrás do silêncio. — E então temos Benício, ela sorriu de leve. O caçula, com vinte e cinco anos. Viajante, curioso, muito inteligente. Desde os dezesseis percorreu o mundo. Só no ano passado retornou para se preparar para o possível casamento. Hoje auxilia o rei: cuida das lavouras, caça, resolve assuntos do reino. É visto como um príncipe completo, capaz de se tornar um grande rei. A professora se inclinou um pouco, olhando-me nos olhos com um ar de mistério. — Você sabe o que todos eles têm em comum? Neguei com a cabeça, sorrindo curiosa. — Olhos azuis. Intensos como os de sua mãe. Meu coração bateu mais rápido. — Devem ser muito bonitos... — murmurei, tentando imaginar os três rostos. Pela primeira vez, senti uma pontada de interesse genuíno. Ela riu baixinho. — São lindos. Já os vi de perto. Dei aulas a Joaquim, William e Benício. Só não conheci a princesa Sofia, que hoje tem treze anos. Quando nasceu, eu já não morava mais no Reino Novo. — Não sabia que havia uma princesa... — falei, surpresa. — Sim. Sofia nasceu justamente na época do acordo com Illianum. É linda, educada, mas muito tímida. Tenho certeza de que você vai gostar dela. Eu já não pensava mais nas coisas ruins. Tentava, ao menos, focar no lado bom. — Lya, já está pronta para o jantar? — ouvi a voz da minha mãe batendo à porta. — Estou! Desço em um segundo. Era nosso último jantar em Illianum, com o rei e a rainha. Não sei por quê, mas eu não estava ansiosa. Troquei o vestido verde que usava por um lilás simples, escovei os cabelos e desci. Ao entrar na sala de jantar, curvei-me diante deles. — Boa noite. Sentei-me ao lado da minha mãe. A rainha Liliane lançou-me um olhar severo. — Atrasos não serão tolerados no Reino Novo, Lya. Engoli seco. Ela sempre foi dura comigo. No fundo, eu sabia por quê: eu era apenas uma sombra da filha perfeita que ela havia perdido. — Perdão. O rei inclinou-se um pouco para mim, mais cordial. — Já está preparada para a viagem, sobrinha? — Sim. Tudo já está pronto. E, naquele momento, eu realmente me sentia preparada. Saber que Ane estaria comigo tornava tudo mais suportável, quase fácil. Durante o resto do jantar, mergulhei nos meus próprios pensamentos, deixando as conversas ecoarem ao longe. Acordei com o amanhecer. Lavei o rosto e fui ao jardim, levar comigo a xícara de chá. Era meu último dia em Illianum. Não queria nada além de descansar, conversar com minha mãe e dormir. Pensei em tudo que tinha acontecido. Algumas mudanças vêm para o bem — repeti para mim mesma. E talvez essa fosse uma delas. De repente, me vi mais confiante do que esperava. — Lya? — ouvi a voz da minha mãe ao longe. Virei-me e a vi se aproximando. — Oi, mamãe. Tudo bem? — fiz espaço para que ela se sentasse ao meu lado. Ela sorriu, um sorriso meio tímido, como se também não acreditasse no que estava prestes a fazer. — Trouxe um presente de casamento para você. Do bolso do vestido, retirou um saquinho vermelho delicado. Entregou-me com mãos trêmulas. Abri com cuidado. Dentro havia um anel de prata, com uma pedrinha em forma de estrela. — É lindo, mamãe... eu amei! — coloquei-o no dedo anelar, admirando-o à luz da manhã. — Quero que o use junto com sua aliança. Assim, nunca sairá do seu dedo. Eu não estarei lá, mas sempre que olhar para ele, lembre-se de mim. Senti as lágrimas queimando os olhos. — Eu vou sentir sua falta. — Eu também, filha. Mas quero que seja feliz. Não veja isso só como obrigação. Busque o amor, de verdade. Amor. A palavra ecoou dentro de mim. Eu nunca me apaixonei. Como poderia agora, de repente, e tão rápido? Claro, seria maravilhoso viver um amor como o da minha mãe e do meu pai. Ela desistiu do trono por ele. Foram felizes até o fim. E ainda hoje, ela acredita que um dia voltará a encontrá-lo. Eu também queria isso. Amar de forma inteira, eterna — mesmo sabendo das impossibilidades. Assenti em silêncio, tentando assimilar todas aquelas informações. A aula terminou e voltei ao meu quarto. A menos de uma semana da viagem, percebi que já não estava mais triste por partir. Pela primeira vez, a curiosidade e a ansiedade falavam mais alto do que o medo