Quando eu tinha apenas quatro anos, minha tia Joana — irmã de meu pai — se casou. Recordo-me com nitidez daquela festa. O salão iluminado por centenas de velas, a passarela tomada por flores brancas, e ela, deslumbrante, caminhando em direção ao altar, com o vestido que parecia feito de luz. Eu fiquei encantada, hipnotizada pela beleza daquele instante.
— Mamãe, um dia eu também poderei me casar assim? — perguntei, os olhos brilhando como estrelas. Ela sorriu, acariciou meu rosto e respondeu: — Claro que sim, minha filha. Seu casamento será ainda mais lindo. Todos os reinos virão para te prestigiar. A lembrança se desfez quando abri os olhos. Diante de mim, como uma cena que parecia saída de um sonho, estavam os três príncipes: Joaquim, William e Benício. Iguais em semelhança, belos em diferentes intensidades — tão encantadores que por um momento perdi o fôlego. Joaquim foi o primeiro a se aproximar. Tomou minha mão com suavidade e a beijou com elegância. — Estou feliz em finalmente conhecê-la. Espero que se sinta em casa. Um calor inesperado percorreu meu peito. Curvei-me levemente, tentando esconder o rubor. — Obrigada. Foi então que Benício surgiu diante de mim. — Aceita uma dança, princesa? — disse, com aquele jeito provocador que me confundia. Olhei de lado, disfarçando a pequena frustração que me tomou, mas Joaquim percebeu — seu sorriso silencioso denunciava isso. Mesmo assim, aceitei. Benício me conduziu ao centro do salão, enquanto William e Joaquim nos observavam de longe. — Você parece frustrada — disse ele, estreitando os olhos. — É porque insiste em me chamar de princesa. Ele riu, e sua risada ecoou como uma melodia atrevida. — Era apenas um apelido carinhoso. Não se repetirá. O silêncio se instalou por alguns instantes, até que ele inclinou-se mais perto. — Já estive em seu reino. Eu a vi lutar. — O quê? — perguntei, surpresa. — Durante um treino. Você voava... era incrível. Um sorriso escapou dos meus lábios. — Eu sinto falta disso. — E não pode mais lutar? — sua voz, pela primeira vez, soava sem sarcasmo. — Não é o que se espera da futura esposa de um príncipe. Aprendi que as obrigações vêm antes dos prazeres. Ele suspirou. — Acho que todos nós aprendemos isso cedo demais. Mas veja pelo lado bom: se casar comigo, terei o maior prazer em vê-la lutar. E, se casar com meu irmão, poderá até lutar com ele. Ri alto, sem conseguir conter-me. Meu olhar voou até Joaquim, ainda firme no mesmo ponto do salão, tão seguro de si, quase inalcançável. Benício percebeu. Algo em seu semblante se contraiu. Para disfarçar, movi discretamente as mãos. Três flores amarelas brotaram sobre o peito dele, e seus olhos brilharam em espanto. — Um presente pela dança. — Isso é incrível! Faz de novo? Neguei com um gesto, mas sua expressão infantilmente decepcionada arrancou de mim um suspiro divertido. — Acho que fui dura com você em nossos outros encontros. Me perdoe. Ele sorriu, e nesse sorriso havia ternura. Sem dizer nada, envolveu-me em um abraço inesperado. Aquele gesto aqueceu-me por dentro. Um turbilhão de sentimentos estranhos, novos e assustadoramente doces, tomou conta de mim. O baile terminou. Voltamos ao castelo, e tudo estava em calma. Nenhuma palavra mais sobre a bomba — silêncio que me pareceu inquietante. Mas, como todos agiam com naturalidade, até o próprio rei, tentei convencer-me de que eram apenas radicais sem importância. Ao me deitar, porém, minha mente não sossegava. O olhar de Benício, seu abraço, suas mãos firmes segurando as minhas... havia algo nele que despertava em mim sensações que eu não compreendia, mas que me deixavam secretamente feliz. A manhã seguinte chegou suave. O sol filtrava-se pelas cortinas brancas, e o quarto parecia envolto em paz. Permaneci alguns minutos entregue àquele silêncio, até que leves batidas à porta me despertaram. — Pode entrar — respondi, sentando-me. Era Julia, sempre tão atenciosa. — Bom dia, fada. Precisa de algo antes do café? Balancei a cabeça, mas logo percebi sua hesitação. — Vi o quanto ficou curiosa ontem sobre a bomba. Endireitei a postura. — Então, conte. Ela respirou fundo, como se carregasse um peso. — Dentro de três dias começaria o festival anual do Reino Novo, em homenagem ao nascimento dos três príncipes e da princesa. Mas hoje pela manhã, o rei anunciou o adiamento do festival... sob a desculpa de se preparar para o noivado real. Arqueei as sobrancelhas. — Mas sequer houve pedido! — Pois é. Ouvi os criados dizerem que isso é apenas um disfarce para ocultar uma possível ameaça de guerra. Um calafrio percorreu-me. — Isso é pior... todos deveriam saber para se preparar. Passei a vida inteira treinada para a guerra, mas nunca desejei ver uma acontecer... Antes que pudesse prosseguir, novas batidas soaram na porta. Julia se levantou prontamente. Quando abriu, Benício estava ali. — Vossa alteza — ela se curvou, com tanta reverência que eu mesma me levantei. A presença dele era arrebatadora, sua postura impunha respeito sem esforço algum. — Bom dia, Julia. — ele respondeu, sem ainda me notar. — Gostaria de falar com a fada. Meu coração disparou. — Um momento, irei chamá-la — disse Julia. — Espere... — Benício a interrompeu, a voz mais baixa, quase tímida. — Ela falou algo de mim? Julia sorriu de canto, tentando conter o riso. — Está inseguro, príncipe? — Não me julgue... olhe para ela. É impossível não sentir insegurança. Fiquei paralisada. Ele não sabia que eu escutava cada palavra. Julia me lançou um olhar cúmplice e, com um piscar, manteve o segredo. Respirei fundo e me aproximei. — Bom dia, príncipe. Me procura? Ele se virou, ligeiramente ruborizado. — Bom dia! Eu... — hesitou, como se ordenasse os pensamentos. — Gostaria de convidá-la para um passeio. Agora... ou mais tarde, se preferir. Sorri sem conseguir disfarçar. Ao vê-lo corar, um calor ingênuo tomou conta de mim. Dei um passo para perto. — Apenas um minuto. Benício assentiu, os olhos brilhando como os de um menino prestes a ganhar um tesouro. E dentro de mim, pela primeira vez em muito tempo, algo novo floresceu: uma ansiedade leve, quase doce. O segundo príncipe despertava em mim um sentimento que eu não sabia nomear — mas que, estranhamente, me fazia feliz.