A Parede que Fala
A manhã estava enevoada quando Ana e Rafael voltaram à estação ferroviária.
A garoa fina transformava a paisagem numa moldura acinzentada, apagando as cores do mundo, como se o tempo os empurrasse para dentro de outra era.
A mesma onde a verdade fora enterrada com camadas de poeira, cimento e silêncio.
Ana carregava consigo as fitas, o caderno de anotações e uma convicção que já não era mais alimentada pelo instinto, mas pela urgência de honrar os nomes esquecidos.
Rafael, ao lado dela, mantinha os olhos atentos, como se qualquer sombra pudesse conter resistência ao que estavam prestes a revelar.
A entrada da estação era a mesma de antes, mas agora Ana percebia cada detalhe com nitidez:
Os azulejos rachados no hall principal, os pilares corroídos pelo tempo, a antiga bilheteria fechada com tábuas pregadas às pressas.
No fundo, o acesso ao terceiro piso era parcialmente bloqueado por escombros e placas de “interditada”.
— Ala sul. Disse Ana, apontando para uma es