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Capítulo 3 – Silêncio Cortante

Cinco dias.

Já fazia cinco dias desde aquela maldita reunião com Dante Alveron.

Cinco dias desde aquele olhar que pareceu despir a minha alma.

E desde então… nada.

Nem um chamado. Nem um aceno distante. Nem mesmo uma aparição nos elevadores.

Era como se ele tivesse surgido apenas para me bagunçar, e depois desaparecido como fumaça.

No começo, achei que ele estava ocupado. Depois, comecei a achar que talvez fosse algum tipo de jogo. E agora... agora eu já estava me perguntando se tinha inventado tudo.

– Você acha melhor café coado ou expresso? – perguntou Clara, minha colega de mesa, do nada.

Ergui os olhos da tela com uma piscada lenta, saindo do turbilhão de pensamentos.

– Hã?

– Café. Coado ou expresso?

– Depende... pra esquecer que eu existo, expresso. Pra fingir que a vida é suportável, coado.

Clara riu.

– Poético. Trágico. E 100% verdadeiro.

Ela era uma das poucas pessoas no escritório que não parecia carregar veneno nos olhos.

Tinha um jeito leve de existir, como quem não leva o trabalho nem a vida tão a sério. E talvez por isso fosse a única com quem eu trocava algumas palavras além do básico.

Clara era relativamente baixa, com um corte chanel bem-feito que emoldurava o rosto delicado como o de uma fada. O cabelo liso, de um tom louro-avermelhado meio indefinido, dava a ela um ar quase etéreo, mas bastava abrir a boca para mostrar que era mais fogo do que floresta encantada.

– Você tá aérea hoje. Mais do que o normal. Sonhou com o CEO, foi?

Quase engasguei com o resto do café.

– Oi? Que absurdo.

– Aham. Você acha que ninguém viu aquela reunião relâmpago na sala dele no primeiro dia? Virou assunto até no RH.

– Não foi nada demais, Clara.

– Claro que não. Ele só chamou você pra uma ‘conversa reservada’, coisa que nunca aconteceu com nenhum outro funcionário.

Ri, sem graça. Ele me bagunçou e desapareceu.

Talvez pra ele tenha sido só um momento irrelevante, uma distração. Mas pra mim... foi impossível fingir que nada aconteceu.

– Relaxa, Amélia – ela disse, enquanto digitava. – Esses caras vêm de outro planeta. Eles falam uma palavra e a gente passa dias tentando decifrar. Quer um conselho? Vive tua vida. Ele que se dane.

– Talvez eu devesse mesmo.

Mas naquele instante, meu computador fez o inconfundível plim de nova notificação.

> Nova tarefa atribuída – Sistema Interno

Responsável: Amélia Lorren

Solicitante: D. Alveron

Assunto: Reunião privada – Confidencial

Data: Amanhã – 19h00 – Sala 7C

Meu coração deu um salto. Literalmente. Senti as mãos gelarem.

Clara percebeu na hora.

– Tá tudo bem?

– Sim. Quer dizer... não sei. É só... é uma reunião.

– Com quem?

ela arqueou uma sobrancelha, já farejando drama.

– Com... o Dante. – Ela arregalou os olhos. – Mentira.

– Gostaria que fosse.

Fiquei ali, encarando a tela como se ela fosse começar a se mover sozinha. Clara obviamente deu uma de xereta e logo leu a notificação que piscava na tela, me deu uma cotovelada de leve.

– Mulher, isso não é reunião. Isso é convite pro inferno. Um inferno bem... gostoso, talvez, mas ainda assim um inferno.

– Clara!

– Só digo verdades. Vai com calma. Homens assim costumam ser a perdição para meras mortais como nós.

Ela voltou a digitar como se não tivesse acabado de jogar uma bomba no meu colo. Eu, por outro lado, mal conseguia respirar.

Depois de cinco dias em silêncio, ele me puxava de volta.

E agora, eu não sabia se estava animada... ou aterrorizada.

Talvez os dois.

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