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Capítulo 4 – Ele Sabe

Eu já devia ter me acostumado com o efeito que ele tinha em mim.

Mas como, se bastava um e-mail assinado por “D. Alveron” para meu estômago virar, minha pele reagir, e meu cérebro entrar em curto?

Era só uma reunião.

Era só trabalho.

Mas quando vi o horário, 19h, fora do expediente, e o andar, 7C, onde só ficam as salas de reuniões mais privadas, alguma parte de mim soube: isso não era apenas profissional.

Ainda assim, subi.

A cada andar que o elevador marcava, meu coração batia mais alto. A iluminação era mais fraca naquele horário, o que fazia tudo parecer... clandestino. Quando a porta se abriu, só se ouvia o som dos meus saltos no piso brilhante e o zumbido distante do ar-condicionado.

Parei em frente à sala 7C. Respirei fundo. Bati.

— Entre — a voz dele veio firme, calma.

Empurrei a porta com as mãos ligeiramente suadas.

E lá estava ele.

De pé, encostado à beira da mesa, braços cruzados. A luz dourada do abajur projetava sombras elegantes no rosto dele, acentuando a linha da mandíbula e o olhar cortante. Camisa branca, mangas dobradas. Gravata solta no pescoço. Um homem no controle até quando parecia despretensioso.

— Amélia — disse meu nome como se o saboreasse. — Sente-se.

— Boa noite — murmurei, puxando a cadeira com mais força do que o necessário.

Ele caminhou ao redor da mesa, devagar, como se analisasse algo raro. Como se eu fosse algo raro.

— Você está tensa.

— Estou surpresa. Pensei que não nos veríamos mais.

— E sentiu falta?

A pergunta veio baixa, direta. Me pegou desprevenida.

Minha boca abriu, mas nenhuma resposta saiu. Ele sorriu, satisfeito.

— Gosto de ver esse tipo de reação — ele continuou, sentando na cadeira à minha frente. — Gosto de ver quando as pessoas perdem o equilíbrio. Me diz muito mais do que qualquer currículo.

— Isso aqui é um teste?

— Pode ser — ele deu de ombros, olhando para mim como se atravessasse minhas roupas. — Ou pode ser só curiosidade.

— Curiosidade sua?

— Você me intriga, Amélia.

Fechei os dedos sobre meus joelhos para manter a compostura.

— O que tem em mim que o intriga tanto?

Ele não respondeu de imediato. Apenas se inclinou levemente, apoiando os cotovelos nos braços da cadeira.

— Você tenta esconder. Mas sente. Eu percebo.

— Sentir o quê?

— Essa tensão. Esse desconforto. Essa vontade.

Aquela última palavra caiu no ambiente como uma faísca.

Meu corpo inteiro reagiu. Ele sabia. E mais do que isso — gostava de saber.

— Eu sou sua funcionária — sussurrei, quase como um aviso, como se ainda restasse algum bom senso na sala.

Ele assentiu, lentamente.

— Sim. E isso significa que você deve me obedecer... certo?

Um arrepio subiu por toda minha espinha. Meu corpo reagia antes mesmo de eu entender o que ele estava fazendo. Ele falava devagar, baixo, com aquele tom que parecia deslizar pela pele.

— O que exatamente o senhor quer de mim? — minha voz saiu mais firme do que eu esperava.

Ele se levantou.

Deu a volta na mesa. Parou atrás de mim. Eu não o via, só ouvia o som controlado da respiração dele — perto demais.

Então ele se abaixou, falando próximo ao meu ouvido:

— Nada... que você não queira me dar.

Fechei os olhos. Aquilo não era só sedução. Era domínio. Era como se ele soubesse exatamente onde tocar — sem encostar.

— Não deveria estar fazendo isso — sussurrei.

— Talvez não. Mas você não levantou da cadeira.

Ele estava certo.

E aquilo me assustava.

Virei o rosto e o encontrei mais perto do que imaginei. Os olhos dele estavam fixos nos meus, intensos, escuros na penumbra. Tudo em mim estava alerta, pulsando. Aquilo era errado. Mas, por alguma razão doentia, deliciosa, eu queria que continuasse.

Ele se afastou, lentamente.

— Está dispensada por hoje.

A voz voltou ao tom normal, como se tudo tivesse sido uma alucinação. Como se não tivesse acabado de desmantelar cada uma das minhas defesas.

Me levantei com dificuldade. As pernas estavam bambas. Peguei minha bolsa, evitei olhar de novo para ele.

Mas antes de sair, ouvi:

— Amélia...

Virei o rosto.

— Nem tudo precisa ser dito em voz alta. Às vezes, basta sentir.

Saí sem responder. Quase tropecei no próprio pé no corredor. Entrei no elevador e, quando as portas se fecharam, respirei pela primeira vez.

Minhas mãos tremiam. Meu peito doía. Minha pele ainda ardia nos pontos onde ele sequer me tocou.

E pela primeira vez desde que entrei naquela empresa, uma pergunta tomou conta de mim:

E se isso tudo não for um jogo? E se... ele for o único que conhece as regras?

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