Era pra ser só mais uma segunda-feira normal.
Mas minha cabeça ainda estava no sábado. Mais precisamente, naquele encontro inesperado no shopping. A visão de Dante caminhando ao lado daquela mulher ainda me assombrava, elegante, linda e com cara de quem nasceu sabendo que o mundo girava ao redor dela. Eu não devia me importar. Eu nem conhecia ele direito. Mas alguma coisa em mim insistia em querer mais do que devia. E foi por isso que, num ato de pura imprudência, abri o navegador do computador da empresa, digitei o nome dele, Dante Alveron, e deixei o destino guiar o resto. Notícias, matérias de revista, fotos em eventos sociais. Ele estava em tudo. Como não estaria? O herdeiro do império Alveron. Um nome que carregava mais peso que muitas fortunas inteiras. Cliquei em uma matéria que falava sobre a expansão da empresa para fora do país e, ao lado, uma imagem. Ele. E ela. Helena, descobri num trecho da legenda. Nada mais. Só o nome: Helena Vasquez. O sangue me fugiu do rosto. Helena. Então era esse o nome da mulher com quem ele estava no sábado? Foi quando senti alguém se aproximando por trás. Fechei a aba às pressas, o coração disparado. — O que você tá fazendo com essa cara, hein? — era a voz de Clara. — Parecia que tava vendo um fantasma. — Clara! — levei a mão ao peito, tentando fingir que não estava em pânico. — Me assustou. — Você se assusta fácil quando tá fazendo besteira. — Ela se sentou na cadeira ao lado, estreitando os olhos. — Tá escondendo alguma coisa. Eu sei. Suspirei. Baixei os olhos. Eu precisava tirar aquilo de dentro. — Eu vi Dante no shopping. No sábado. Estava com uma mulher. Clara arregalou os olhos, imediatamente interessada. — Ele e uma mulher? Tipo... juntos? Intimamente? — Não exatamente. Mas ela era linda. Elegante. Aquela beleza fria, sabe? Como se tivesse saído direto de uma capa da Vogue. — E ele te viu? Assenti. — Me viu. Me falou. Me olhou daquele jeito... — engoli em seco. — O jeito dele. Clara arqueou as sobrancelhas. — E você tá aí, caçando informações sobre a tal mulher... — Eu sei que é idiota. Mas eu não consigo parar de pensar nele. E nela. E no que eu senti naquele momento. Clara pegou um bombom da gaveta dela e me estendeu. — Come isso e respira. Vai passar. Ou piorar muito. Vai depender dele. --- O dia correu mais devagar do que deveria. E mesmo que eu tentasse evitar, cada passo dentro daquele prédio fazia minha pele formigar com a possibilidade de encontrá-lo de novo. E foi no fim do expediente, quase como uma armadilha, que o acaso decidiu me entregar. Entrei no elevador vazio, respirando fundo, pronta pra descer. As portas começaram a se fechar... e então pararam. Abriram de novo. Ele entrou. Dante. O coração disparou. Não era mais aquele frio na barriga de antes. Era algo mais quente. Mais denso. Perigoso. — Boa noite, Amélia. — Sua voz grave preencheu o espaço estreito. Ele estava impecável, como sempre. Mas o que me desarmava não era a aparência. Era o olhar. Um olhar que parecia saber exatamente no que eu estava pensando. — Sr. Alveron — murmurei, tentando manter a postura. Ele se virou para mim, um meio sorriso surgindo no canto dos lábios. — Ainda me chamando assim? Mesmo a portas fechadas? — É o apropriado. — respondi, me odiando por soar tão ridícula. Ele deu um passo à frente. O elevador desceu um andar. — E se o apropriado não me interessar? Meu coração errava o ritmo. As luzes do teto pareciam mais fortes de repente, mas talvez fosse só o calor que se espalhava pela minha pele. Ele apertou o botão de emergência. O elevador parou com um leve tranco. Me virei pra ele, surpresa. — O que está fazendo? Dante se aproximou devagar, como um predador que tem todo o tempo do mundo. — Mostrando o que acontece quando você brinca com fogo sem saber a temperatura. Antes que eu pudesse pensar em qualquer resposta racional, suas mãos estavam em minha cintura. Não ásperas. Mas firmes. Ele me encostou na parede espelhada, com o corpo próximo demais, quente demais. Seus dedos deslizaram pelas minhas costelas, sobre a blusa fina, como se decorasse cada curva por cima do tecido. Meu corpo reagia como se ele estivesse tocando a pele nua. Minha respiração falhou. — Você se pergunta o tempo todo se eu noto você, Amélia? — perguntou, sua boca perigosamente próxima da minha orelha. — Eu noto. Seus dedos subiram, traçando um caminho pelo meu braço, até alcançar meu pescoço. Seus lábios roçaram a base da minha mandíbula. Um toque sutil. Cruel. Viciante. — Você me provoca com esse ar de inocência... mas eu conheço esse olhar. Você quer saber até onde isso pode ir. Meu corpo inteiro tremia. Não consegui responder. Não consegui pensar. Era só o cheiro dele, o calor, a força contida em cada toque. E então ele me beijou. Não como quem pede permissão. Como quem toma o que já é seu por direito. Sua boca encontrou a minha com urgência, com uma intensidade que me fez perder o chão. As mãos dele seguraram minha cintura com mais firmeza, me puxando contra seu corpo. Tudo em mim gritava, se desfazia, se entregava. E, quando minha sanidade estava por um fio, ele se afastou. Só o suficiente para me encarar. — Isso... é só o começo. E, como se tivesse total controle do caos que deixou, soltou o botão de emergência. O elevador voltou a descer. Eu fiquei ali, colada à parede, tentando lembrar como se respira.