Amélia Lorren tem 27 anos, foi criada com amor por pais adotivos e leva uma vida discreta, longe de grandes emoções — até conseguir uma vaga em uma das empresas mais poderosas do país. Ela esperava desafios. Só não esperava Dante Alveron. CEO da companhia, primogênito de uma fortuna bilionária e dono de um magnetismo perigoso, Dante é o tipo de homem que comanda tudo — inclusive o ar ao redor. Um breve encontro entre eles é suficiente para acender algo que Amélia não sabe nomear. Tensão. Desejo. Medo ou tudo ao mesmo tempo.
Ler maisAcordei atrasada, derrubei café na blusa, quase perdi o ônibus e, pra fechar com chave de ouro, meu salto quebrou no meio do caminho. Isso tudo antes das 8 da manhã.
Primeiro dia de trabalho na Alveron Group: ✓ Estava suando, nervosa, e tentando parecer minimamente profissional quando entrei naquele prédio gigante. Tudo era tão ... brilhante. Elegante. Frio. Gente bonita, engravatada, andando com pressa como se salvassem o mundo em cada reunião. E eu ali, segurando uma pastinha de onboarding e alguns relatórios impressos que me pediram pra entregar na recepção. A moça do RH me recebeu com um sorriso automático e me indicou a direção do elevador. – Você vai para o sexto andar, área de Projetos Estratégicos. – Certo, obrigada. – Ah, e evite o sétimo andar. – Oi? Ela só sorriu. – Piada interna. Sério, o que tem nesse maldito sétimo andar? Suspirei e entrei no elevador, completamente vazia de autoconfiança e cheia de papéis escorregando das mãos. Apertei o botão do sexto andar e me encostei na parede, tentando não parecer uma aberração estagiária nervosa. As portas estavam quase fechando quando alguém entrou de repente, como se fosse cena de filme: alto, vestido de preto, perfume caro no ar. E então eu o vi. Meu cérebro literalmente travou. O homem era absurdo. Moreno, pele dourada, olhos absurdamente azuis, não azuis comuns, azuis tipo oceano profundo em um dia de tempestade. Terno impecável. Rosto marcado, queixo forte, olhar perigoso. Ele olhou pra mim como quem examina. Não de forma grosseira. Era pior. Era intensa. E foi nesse exato momento que eu deixei os papéis escorregarem. Literalmente, tudo caiu no chão. Relatórios, pastas, meu crachá, minha dignidade. Os papéis se espalharam aos pés dele e eu quis desaparecer. Evaporar. Virar pó. – Merda – sussurrei, abaixando imediatamente. Tentei juntar tudo apressada, esbarrando nas pernas dele no processo. Sim, encostei sem querer na calça social dele, com minha mão, e olhei pra cima, como se pedir desculpa resolvesse alguma coisa. Ele só arqueou uma sobrancelha. – Primeiro dia? A voz dele era baixa. Grave. Meio irônica. – É. Tá óbvio? – Levemente. Levemente, ele disse. Com aquele olhar que parecia ver através da minha roupa, da minha pele, da minha alma. Abaixou-se também, pegou dois papéis e me entregou. – Nervosa? – Um pouco – respondi, tentando rir. Soou como um guincho. O elevador parou. As portas se abriram no sexto andar. – Seu andar – ele disse, sem sair. – Você não vai? – Não. Eu sou o sétimo. Arrepio instantâneo. – Claro que é – murmurei, mais pra mim do que pra ele. Ele deu meio sorriso. Aqueles olhos azuis me encarando como se tivesse lido cada pensamento idiota que eu tinha tido nos últimos segundos. – Bem-vinda, Srta. Lorren. – Como sabe meu nome? Ele não respondeu. Só deixou as portas se fecharem enquanto eu ainda encarava o espaço onde ele estava. Eu podia jurar que ele disse meu nome com gosto. --- Duas horas depois, ainda tentando não morrer de vergonha, fui chamada por uma assistente para “uma conversa rápida com o CEO”. – Ele... quer me ver? – Sim. É normal com novos integrantes da equipe estratégica. A palavra normal não combinava nem um pouco com aquele homem. Fui conduzida até o sétimo andar — sim, o sétimo andar — e o lugar parecia um universo à parte. Silencioso, elegante, intimidante. Tapetes escuros, arte moderna, cheiro de madeira cara e café importado. A assistente abriu a porta de uma sala imensa. Ele estava lá. Dante Alveron. Em pé, olhando por uma janela panorâmica, com uma mão no bolso e outra segurando um copo de vidro com algum líquido âmbar. Quando virou, meu estômago caiu de novo. – Srta. Lorren – ele disse, como se o nome ainda tivesse o mesmo gosto de antes. – Senhor Alveron – respondi, tentando parecer segura. Era um teatro patético. – Gostei da sua ficha. – Obrigada. – Não pelo currículo. Pela reação no elevador. Gosto de gente que não tenta parecer perfeita. Não soube se era elogio, ameaça, ou um teste estranho. – Quero que fique de olho em um projeto novo. Diretamente com minha equipe. Eu engoli em seco. – Está preparada? – Eu... estou disposta a aprender. – Ótimo – ele disse, com um sorriso lento. – Disposição é mais útil que certezas. E antes que eu pudesse pensar em mais alguma resposta inteligente, ele já estava novamente de costas, olhando pela janela como se já tivesse esquecido de mim. Mas eu não esqueci dele, nem por um segundo.Era pra ser só mais uma segunda-feira normal. Mas minha cabeça ainda estava no sábado. Mais precisamente, naquele encontro inesperado no shopping. A visão de Dante caminhando ao lado daquela mulher ainda me assombrava, elegante, linda e com cara de quem nasceu sabendo que o mundo girava ao redor dela. Eu não devia me importar. Eu nem conhecia ele direito. Mas alguma coisa em mim insistia em querer mais do que devia. E foi por isso que, num ato de pura imprudência, abri o navegador do computador da empresa, digitei o nome dele, Dante Alveron, e deixei o destino guiar o resto. Notícias, matérias de revista, fotos em eventos sociais. Ele estava em tudo. Como não estaria? O herdeiro do império Alveron. Um nome que carregava mais peso que muitas fortunas inteiras. Cliquei em uma matéria que falava sobre a expansão da empresa para fora do país e, ao lado, uma imagem. Ele. E ela. Helena, descobri num trecho da legenda. Nada mais. Só o nome: Helena Vasquez. O sangue me fugiu do rosto. H
— A gente se encontra na segunda então? — Clara perguntou, caminhando ao meu lado com sacolas coloridas e os chinelos descartáveis do salão ainda nos pés. — Sim... segunda — respondi, meio distraída. Depois da pedicure, tínhamos passado numa farmácia, rido de uns cremes com nomes estranhos e, no impulso, entramos no shopping pra pegar um sorvete. Clara já estava indo embora, com mil planos de jantar com o namorado. Eu tinha decidido ficar mais um pouco. Sem rumo. Sem vontade de voltar pra casa. Estava quente, e a brisa que vinha das portas de vidro do shopping batia direto na minha nuca. Usava uma blusa de linho clara, com mangas soltas até o cotovelo, e uma calça leve de tecido molinho, confortável demais pra ser charmosa. Prendi o cabelo num rabo de cavalo rápido, mas ele insistia em cair pelas costas, escorregando até quase a cintura. Simples. Quase descuidada. Mas era sábado, afinal. Caminhei distraída pela livraria. Depois pelas vitrines. Meu sorvete de pistache já havia d
Sábado. Um dia oficialmente destinado ao descanso. Mas o descanso não veio. Desde que acordei, já tinha arrumado os armários, reorganizado minha gaveta de meias por cor (quem faz isso?), limpei a geladeira e fiz duas tentativas frustradas de me concentrar num livro. Tudo pra evitar pensar nele. Mas bastava fechar os olhos por mais de dois segundos e o cheiro dele voltava. O calor da respiração dele no meu ouvido. A voz baixa, controlada. Aquilo não tinha sido só uma reunião. Aquilo tinha sido... sei lá. Um ataque coordenado aos meus nervos. Eu estava completamente sozinha no meu apartamento de 38 metros quadrados, vestindo um pijama largo e segurando uma caneca de café frio. Me sentia... ridícula. Meu celular vibrou no sofá. Clara: "Garota, vem fazer as unhas comigo. Preciso de fofoca, de lixar os calcanhares e de ignorar os boletos." Sorri. Só Clara pra escrever isso antes das 10h da manhã com entusiasmo genuíno. Eu: "Não sei se estou com energia social hoje..." Clara: "Ener
Eu já devia ter me acostumado com o efeito que ele tinha em mim. Mas como, se bastava um e-mail assinado por “D. Alveron” para meu estômago virar, minha pele reagir, e meu cérebro entrar em curto? Era só uma reunião. Era só trabalho. Mas quando vi o horário, 19h, fora do expediente, e o andar, 7C, onde só ficam as salas de reuniões mais privadas, alguma parte de mim soube: isso não era apenas profissional. Ainda assim, subi. A cada andar que o elevador marcava, meu coração batia mais alto. A iluminação era mais fraca naquele horário, o que fazia tudo parecer... clandestino. Quando a porta se abriu, só se ouvia o som dos meus saltos no piso brilhante e o zumbido distante do ar-condicionado. Parei em frente à sala 7C. Respirei fundo. Bati. — Entre — a voz dele veio firme, calma. Empurrei a porta com as mãos ligeiramente suadas. E lá estava ele. De pé, encostado à beira da mesa, braços cruzados. A luz dourada do abajur projetava sombras elegantes no rosto dele, acentuando a li
Cinco dias. Já fazia cinco dias desde aquela maldita reunião com Dante Alveron. Cinco dias desde aquele olhar que pareceu despir a minha alma. E desde então… nada. Nem um chamado. Nem um aceno distante. Nem mesmo uma aparição nos elevadores. Era como se ele tivesse surgido apenas para me bagunçar, e depois desaparecido como fumaça. No começo, achei que ele estava ocupado. Depois, comecei a achar que talvez fosse algum tipo de jogo. E agora... agora eu já estava me perguntando se tinha inventado tudo. – Você acha melhor café coado ou expresso? – perguntou Clara, minha colega de mesa, do nada. Ergui os olhos da tela com uma piscada lenta, saindo do turbilhão de pensamentos. – Hã? – Café. Coado ou expresso? – Depende... pra esquecer que eu existo, expresso. Pra fingir que a vida é suportável, coado. Clara riu. – Poético. Trágico. E 100% verdadeiro. Ela era uma das poucas pessoas no escritório que não parecia carregar veneno nos olhos. Tinha um jeito leve de existir, como
Eu não sabia se tremia de nervoso ou de raiva por estar tremendo de nervoso. Desde que saí daquela sala, a imagem dele ficou grudada em mim. Dante Alveron. O nome soava como algo proibido. E talvez fosse. Não que eu tivesse qualquer ilusão, homens como ele não se misturam com mulheres como eu. Eles apenas... observam. Testam. Brincam. Voltei para minha estação no sexto andar tentando parecer normal, mas sentia os olhos de todo mundo em mim, como se já soubessem o que tinha acontecido. “Você foi chamada no primeiro dia?” “Com o próprio Dante?” “Ah, então é assim que se sobe rápido...” Eles não disseram nada disso em voz alta. Mas eu li tudo nos olhares atravessados e nos sorrisos escondidos atrás das xícaras de café. Foda-se. Fiz o que qualquer mulher sensata faria: me afundei em trabalho. Revisei três apresentações, preenchi dois formulários internos e fingi que não estava pensando no homem que me chamou pelo nome sem nunca ter me visto. Mas claro que o universo não ia me
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