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Capítulo 6 – Linho e Olhares que Queimam

— A gente se encontra na segunda então? — Clara perguntou, caminhando ao meu lado com sacolas coloridas e os chinelos descartáveis do salão ainda nos pés.

— Sim... segunda — respondi, meio distraída.

Depois da pedicure, tínhamos passado numa farmácia, rido de uns cremes com nomes estranhos e, no impulso, entramos no shopping pra pegar um sorvete. Clara já estava indo embora, com mil planos de jantar com o namorado.

Eu tinha decidido ficar mais um pouco. Sem rumo. Sem vontade de voltar pra casa.

Estava quente, e a brisa que vinha das portas de vidro do shopping batia direto na minha nuca. Usava uma blusa de linho clara, com mangas soltas até o cotovelo, e uma calça leve de tecido molinho, confortável demais pra ser charmosa. Prendi o cabelo num rabo de cavalo rápido, mas ele insistia em cair pelas costas, escorregando até quase a cintura.

Simples. Quase descuidada.

Mas era sábado, afinal.

Caminhei distraída pela livraria. Depois pelas vitrines. Meu sorvete de pistache já havia derretido, só restava a casquinha. Foi quando parei em frente à vitrine de uma loja de roupas e vi o reflexo. Ou melhor, vi os olhos.

Mesmo refletido no vidro, mesmo sem som, mesmo com um mar de pessoas atrás, eu reconheceria aquele olhar.

Dante.

Demorei dois segundos para me virar, três para entender que era real, e mais dois para me arrepender de ter saído de casa com aquela roupa.

Lá estava ele. Alto como uma maldita árvore genealógica de semideuses. Camisa escura, calça de alfaiataria, blazer leve jogado por cima dos ombros. Elegante sem esforço. Como se tivesse nascido com a capacidade de dominar qualquer ambiente.

E ao lado dele… uma mulher.

Alta. Cabelos loiros num coque sofisticado. Vestido justo, salto fino, óculos escuros mesmo dentro do shopping. Ela tinha aquele tipo de beleza de revista cara. Do tipo que te faz arrumar a postura só por estar no mesmo raio de visão.

Os dois andavam devagar, como se tivessem tempo de sobra. Como se estivessem passeando num filme. Ou num mundo onde eu claramente não pertencia.

De repente, ele parou.

Não a mulher. Ele.

Olhou direto pra mim.

Fiquei paralisada. Literalmente. Como se meus pés tivessem enraizado no mármore polido do piso. Senti o sangue pulsar nas têmporas, como se minha alma estivesse tentando fugir pela cabeça.

Os olhos dele me percorreram lentamente. Dos meus olhos, descendo pelo rabo-de-cavalo desalinhado, pela blusa leve e amassada, pela calça simples. Um olhar de escaneamento. Um olhar perigoso.

A mulher ao lado dele seguiu falando ao celular, sem perceber nada.

Mas ele sim.

Ele sabia exatamente o que estava fazendo.

Deu um passo na minha direção. Lento. Controlado. Preciso.

— Amélia — disse, e o som do meu nome na voz dele pareceu ressoar por todo o shopping.

— Sr. Alveron — tentei manter a compostura, como se tivesse treinado aquilo num espelho. Minha voz, por algum milagre, não falhou.

Ele arqueou uma sobrancelha. Um traço de provocação cruzou seus lábios.

— Sábado à tarde, num shopping... Não achei que fosse seu ambiente.

— Eu poderia dizer o mesmo.

— Toca de camaleão bem interessante a sua — os olhos dele desceram novamente pelo meu corpo. — Longe do escritório, você parece... mais real.

Não soube o que responder. Me senti exposta, simples, amadora. Como se meu rabo-de-cavalo tivesse virado uma confissão.

— E a senhora...?

Ele se virou um pouco, indicando a mulher, ainda distraída com o celular.

— Alguém do seu convívio? — perguntei, imediatamente odiando o tom casual da minha voz.

Ele sorriu de lado.

— Parceria antiga. Nada que você precise se preocupar. Ainda.

“Ainda?”

Minha cabeça girou. Ele tinha esse poder, deixava tudo com duplo sentido. E sempre parecia saber mais do que deixava transparecer.

A mulher virou, finalmente notando que ele havia parado.

— Dante, temos horário — disse com uma voz doce, mas afiada.

Ele não desviou o olhar de mim.

— Nos vemos em breve, Amélia.

E se virou, caminhando com ela como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse acabado de me despir com os olhos no meio de um shopping lotado.

Fiquei ali. Respirando devagar. As pessoas passavam por mim, rindo, falando alto, carregando sacolas. Mas eu estava em outro plano.

A única coisa que conseguia pensar era:

Por que, entre tanta gente naquele lugar, ele parou por mim?

E mais importante ainda:

Quem era ela?

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