Nível um…

— Eu não sei de nada Eros. Mas de uma coisa eu tenho certeza. — Ares expirou o fumo do charuto— Você está disposto a manchar a minha campanha..

Eros se sentou no braço da poltrona ao lado, e ambos ficaram em silêncio por alguns instantes.

— Já tive ótimas oportunidades, mas pode ficar tranquilo, ainda sou um fantoche que pode usar para suas campanhas eleitorais.

— Quando vai perceber que faço isso por vocês? Quando vai entender que suporto tudo isso para dar-vos o melhor que posso? Todas as casas que tens, os caros luxuosos, essa empresa que és o dono, tudo isso sempre foi por vocês.

— Eu nunca pedi nada disso. — respondeu.

— Eu sei! Mesmo assim eu fi-lo por nós, pela sua mãe e seus irmãos. Para que vocês não passassem pelo que eu passei.— falou exaltado.

O cheiro da fumaça, o gosto da madrugada e o que não era dito... preenchia tudo.

— O que quer que eu faça? Agradeça o pelos seus sacrifícios? Pelos anos que o senhor nunca esteve presente? Ou pelas palavras nunca ditas? Presumo que sejam pela empresa que abandonou, e ainda colocou tudo em nome da esposa. Tudo isso para sempre conseguir mais e mais. Que tipo de ganância é essa?

— Isso é assunto meu e de sua mãe, seu moleque.— Ares se levantou irritado.— Quem você pensa que é para me dar lição de moral? Devo te lembrar que você é igualzinho à mim? Ou talvez uma versão bem pior Rodeado de mulheres e sei lá mais o quê.

— Não! Eu não sou igual a você, eu nunca jurei fidelidade e amor incondicional a ninguém e nem pretendo fazê-lo se isso significa desistir por tudo que lutei só por “amor”, jamais.

— Pois eu lamento. Mesmo. — ele deu as costas para o filho e caminhou em direção as escadas.— Em breve temo que vais entender o que eu passei. Aguarde.

O senhor de quase cinquenta e três anos de idade, subiu as escadas e deixou seu filho mais velho, sem entender o que ele quis dizer!

A noite era uma criança, apenas acabava de começar e já trazia um turbo de emoções em corações já quebrados. De um lado, Harper — que perdera tudo: a casa, a paz, e até sua única herança. Mila. Uma jovem que, por se sentir invisível numa relação sufocante, deixou-se escorregar para o vazio. Do outro, Eros — filho moldado à imagem de um império construído por aparências, ambição e controle. Um homem que aprendeu, cedo demais, a desconfiar do amor, julgando-o uma fraqueza, um erro repetido e disfarçado, como as promessas quebradas de seu pai.

Poderiam chamar de coincidência, ou dar o nome romântico de destino àquela estrela cadente que atravessou o céu naquela noite. Talvez fosse só uma chuva de meteoros, uma daquelas que ninguém espera e todos observam em silêncio, sem saber que, no fundo, alguma coisa muda.

Mas, para eles, naquele instante em que os olhares se cruzaram no céu, foi como se o universo decidisse conspirar. Não para consertá-los, mas para fazê-los ver que, às vezes, dois estragos bem diferentes conseguem formar algo inteiro.

Uma nova manhã nascia com lentidão, como quem desperta sem pressa do próprio silêncio. O céu, ainda pincelado de tons suaves entre o lilás e o dourado, estendia uma luz tímida sobre os telhados adormecidos. O ar trazia aquele frescor que só existe nos primeiros minutos do dia — leve, quase puro, carregado de possibilidades. Tudo parecia suspenso por um breve instante, entre o que já passou e o que ainda está por vir. Era um recomeço silencioso, discreto, mas cheio de palavras não ditas.

Eros acordou com o som do despertador, era hora de trabalhar, sua mãe Afrodite já na mesa com Harmonia, conversavam sobre a última semana de moda em Paris. Himeros, conversava ao telemóvel com sua assistente sobre as últimas modelos que saíram na capa de revista.

— Sim! Aquela loira precisa ser descartada! Não, não precisa demiti-la assim.— ele passou a mão no cenho franzido.— Vamos encontrar algum motivo para dispensar ela. Mas de qualquer maneira preciso que achem Emília para mim.

A outra pessoa ao lado, anotava tudo o que ele pedia, e antes da chamada encerrar, ela respondeu.

— Claro senhor! Vamos tratar disso.

Eros que ouviu a conversa do irmão, sorriu ao pensar em quem seria demitida. Seus passos eram harmoniosos, quase inaudíveis. Mas o perfume, a presença dele, gritava por si mesmo.

— Logo pela manhã já está pensando em como demitir alguém? — perguntou ele ao irmão mais novo.

Harmonia sorriu ao notar a presença do irmão mais velho, sua mãe também manifestou sua satisfação em vê-lo.

— Não vi você chegar ontem filho.— Disse ela, recebendo um beijo no topo da cabeça. Eros sentou-se ao lado dela, e beijou outra vez sua mão.

— Foi uma noite daquelas! Adolf deu trabalho outra vez — comentou.

— Precisa impedir seu primo de fazer essas coisas, ele só tem vinte e três anos, porquê levou ele para um lugar assim? — perguntou a mãe preocupada.

— Adolf é um homem! Mãe. Homens precisam aprender a viver cedo, depois que se casam, vivem o resto.

Afrodite, olhou torto para seu filho, sabia que ele pensava mal sobre casamentos, que esse tipo de união era demais pra ele. E que o máximo que fazia em suas relações, era levá-las para cama, até se fartar delas.

— O casamento não se resume a isso! Mas ainda não estás pronto para essa conversa.

— Nem nunca estará— murmurou Himeros. Que ao contrário de todos que apenas observavam as ações e atitudes dele, Himeros as repudiava.

— Continua trabalhando que é o que faz de melhor. — disse Eros, que amanteigava sua torrada.

Himeros se levantou da mesa, não pretendia se irritar com seu irmão logo de manhã.

Ele, era muito diferente de Eros, fazendo o oposto de seu irmão, que até aos seus vinte e seis anos, nunca antes havia namorado, e decidiu guardar sua castidade para depois do casamento, embora estivesse envolvido no mundo da moda, seu carácter não se punha em questão.

Mila apertava o próprio casaco contra o corpo, sentindo o vento da noite brincar com seus cabelos. Estava decidida — havia ensaiado cada palavra no espelho, cada silêncio calculado. Mas quando Eros chegou, o som do motor do Ferrari 812 superfast importado, se misturou ao aroma inesperado: flores, dezenas delas, ocupavam o banco de trás e o assento ao lado. Rosas, peônias, até pequenas dálias — como se ele tivesse memorizado cada flor que já a fez sorrir.

Ela engoliu seco. A raiva que antes fervia no peito começou a perder cor, como tinta escorrendo em água limpa. Eros saiu do carro sem dizer uma palavra, apenas a olhou com aquela expressão que confundia — meio culpa, meio desejo, meio certeza de que ela ainda estava ali.

A certeza que Mila trazia consigo começou a fraquejar. O discurso ensaiado vacilou. E no lugar da decisão, uma dúvida doce se instalava, sedutora e perigosa.

— Estou perdoado por ontem à noite? — ele perguntou, com aquele sorriso inclinado e os olhos semicerrados de quem conhece o próprio poder. O tipo de expressão que ela detestava amar.

Mila cruzou os braços, tentando manter a pose, mas seu corpo a traía. O franzir de cenho dele, a voz baixa, quase um sussurro arrastado… Aquilo ativava nela algo entre raiva e desejo — uma mistura perigosa que sempre terminava com ele vencendo.

Ela desviou o olhar, firme apenas na aparência.

— Depende… — respondeu com frieza ensaiada. — Está me perguntando como homem arrependido ou como o mesmo idiota que sempre acha que flores resolvem tudo?

Ele se aproximou, o cheiro do perfume caro misturado às flores invadiu o espaço entre eles.

— Estou perguntando como homem que ainda te quer. — disse, firme, olhando diretamente nos olhos dela.

E naquele instante, o que mais gritava em Mila não era a voz da razão — era o corpo, era a memória dele na pele, era a porta que nunca soube fechar completamente, molhada apenas com um sorriso bobo, Eros tinha um grande poder sobre ela, e ele sabia bem.

Harper parou a poucos passos de Mila e Eros, com a pulseira quebrada guardada num lenço de linho gasto, o único gesto de cuidado possível diante da herança despedaçada. O portão do condomínio se abriu sem cerimônia, e lá estavam eles — Mila jogando os cabelos dourados como se o mundo girasse ao seu redor, e Eros, impecável, sustentando o olhar com uma confusão evidente.

— Hey — chamou Harper, firme, com a voz mais calma do que sentia.

Mila a fitou de relance. Fria, ergueu o queixo e simplesmente voltou a falar com Eros como se a outra não existisse.

Harper não esperava um tapete vermelho, mas ignorá-la por completo era um pouco demais.

— Hey — repetiu, olhou de relance para Eros. Mas logo voltou seus olhos para Mila— Você quebrou algo que não era seu. E agora vai ter que ouvir.

Eros virou-se lentamente, os olhos se fixando na jovem de cabelos negros e olhos intensos como um segredo antigo. Algo nela não se encaixava ali. Ela parecia real demais naquele cenário de aparências — um contraste

desconfortável e ao mesmo tempo magnético.

— Quem é você? — ele perguntou, com a voz baixa, mas atenta.

Harper abriu o lenço, revelando os fragmentos da pulseira. Não precisava dizer mais nada. O silêncio agora era mais barulhento que qualquer acusação.

— Quem é você afinal? — perguntou Mila irritada por uma desconhecida estragar seu momento de reconciliação.

— Sou Harper. E você quebrou minha pulseira de Jade ontem à noite lembra? — falou! Ainda com gentileza e paciência.

— Ouve aqui garota, eu já disse que não quebrei nada, vocês pobres são sempre assim, vê se sai daqui. Ou eu preciso chamar a polícia?

Eros franziu o cenho no mesmo instante, dando um passo à frente, colocando-se discretamente entre as duas.

— Mila, isso foi necessário? — ele perguntou, sério, olhando para ela com um desagrado contido.

— Você tá mesmo dando ouvidos pra uma qualquer? — Mila rebateu, cruzando os braços, como se esperasse que ele se posicionasse do lado dela por reflexo.

Harper respirou fundo. Aquele era o tipo de situação que normalmente ela evitaria, mas não dessa vez. A dor de ver algo tão valioso — não pelo preço, mas pela memória — destruído e jogado fora como ela mesma parecia ser, queimava mais do que o orgulho.

— Eu não vim pra discutir. Só quero a minha pulseira arrumada. Era da minha avó. É só isso. — sua voz saiu firme, mesmo que os olhos começassem a brilhar demais.

— Ah, claro, pulseira da avó, do tataravô, da realeza, né? Vai dramatizar em outro lugar! — Mila girou nos saltos como se aquilo fosse ridículo.

— Mila, chega — disse Eros, agora visivelmente incomodado. — Você perdeu a linha. Completamente.

Ele então virou-se para Harper, com um olhar mais contido.

— Me dá o que sobrou dela. Eu vou mandar consertar. E garantir que isso não se repita.

Mila o encarou, ofendida, como se Harper tivesse vencido uma batalha silenciosa.

Mas Harper não sorriu. Apenas entregou os fragmentos da pulseira, com o mesmo cuidado de quem entrega o último pedaço de uma lembrança.

— Obrigada. — disse ela, antes de virar as costas e ir embora. Sem pressa. Sem baixar a cabeça.

O momento dos dois foi totalmente quebrado pela presença de Harper naquele instante.

Para Harper, aquela pulseira era seu último resquício de uma vida que nunca viveu. A única coisa que tinha preço alto e um valor inestimável para ela. E não permitiria que uma riquinha, tirasse tudo isso dela.

Em casa, Ares pensava em uma maneira de seu filho se casar, precisava que essa pessoa não fosse do seu meio social e de certeza que não poderia ser atual namorada do filho.

— Eros nunca vai aceitar terminar com Mila, há não ser que ele queira.— Disse Afrodite, enquanto tomava seu chá da tarde ao lado de seu esposo.

— Então faremos com que ele queira — disse Ares, levantando-se e indo até a janela. O tom de sua voz era frio, quase calculista. — Precisamos apenas de alguém que… mude a direção do desejo dele.

Afrodite ergueu uma sobrancelha, interessada.

— Você está sugerindo criar uma distração?

— Não apenas uma distração — ele sorriu de canto — uma mulher que o tire do eixo. Que seja exatamente o oposto do que ele tem agora. Que o desafie. Que o provoque. Que o faça duvidar da própria paixão.

Afrodite pousou a xícara com elegância.

— O que tens em mente?…

Ares virou-se para ela.

— Alguém fácil de moldar! Que seja algo que dê certo, para todos. Mila não é mulher certa para Eros, ela é muito exposta, e isso não fará bem para a minha campanha eleitoral, depois que os resultados saírem eles podem fazer o que quiserem.

—Não conheço ninguém assim.

— Tenho certeza que vai aparecer. Só precisamos esperar.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP