Harper, passou os últimos dias na casa de Emília, depois de ter sido expulsa de onde morava.
— O que vais fazer agora? — perguntou Emília olhando para amiga que arrumava a cama onde dormiu.
— Encontrar algo melhor para fazer, me demite daquele emprego horrível… fazia tanto e ainda me pagavam uma mixaria— murmurou.
— Já pensou em ser modelo? — perguntou ela, entusiasmada.
— Não! Detesto chamar atenção… prefiro ser só rica mesmo.
— Pode começar por aí! Meu primo tem um Estúdio fotográfico e as vezes trabalham com revistas, e eles precisam de alguém que monte looks para eles, e você, tem um gosto incrível.
— Não sei! Trabalhar para os outros não me agrada nada! E sabes que não me dou bem com pessoas mandando em mim.
— Isso é um problema que temos que mudar, se quer ser rica, precisa aprender a engolir sapos, e mais tarde, fá-lo-os engolir também, é assim que isso funciona. — Emília olhou pra ela, de cima para baixo, sua aparência só precisava de um pouco mais de cuidado.— Penso que não estás no direito de exigir muito. Deixa que eu ligue para ele?
— O que eu faria lá? Montar looks? Quanto me pagariam para fazer algo que eu gosto? — perguntou sarcástica.— Um dólar?
— Mil dólares na verdade— falou.
Os olhos de Harper arregalaram-se, dois mil dólar só para montar Looks? Isso era um exagero.
— Estás a falar sério? Tipo, dois mil dólares mesmo? — Perguntou mais uma vez só para ter certeza.
— Sim! Trabalhar com marcas como Chanel, Dior, Gucci, é muita responsabilidade e Simon nunca paga mal seus funcionários.
— Me leva até ele? Claro depois de ligar para ele. — falou Harper entusiasmada.
— Claro! — Emília tirou o celular do bolso do vestido, e ligou para o primo. A ligação foi longa, embora Simon estivesse relutante, sua prima sabia exatamente como o convencer. E sempre teve a solução para todos os seus problemas.
— Ótimo! Então chegamos aí em 30 minutos.
A chamada encerrou e ambas pularam de alegria. Ainda não era uma certeza, mas já era um começo.
— Vamos nos arrumar, ele não gosta de atrasos. — disse Emília, puxando Harper para seu quarto.— Eu te amo amiga! Mas não vais com as tuas roupas, depois do teu primeiro salário, podes me pagar um almoço no restaurante Catch.
— Claro minha amiga, depois disso te levaria todos os meses se preciso.
Ambas riram e começaram a ver o que vestir. Na maior alegria, Emília conduziu até ao luxuoso estúdio de Simon, seu primo e quase melhor amigo.
Quase! Porque se Simon não fosse tão ante-pático e ranzinza, poderiam ser melhores amigos.
Na porta do estúdio, Emília parou bem à frente da amiga antes de entrarem.
— Precisas ter paciência com Simon, ele consegue ser muito mal-humorado.
— E o que tem? — Harper respondeu, como se não se importasse.
— O que tem? Acredita, meu primo consegue ser bem exigente. Nunca sorri. O lado bom é que ele ignora completamente essas modelos que vivem tentando chamar atenção.
Harper segurou nos ombros da amiga e acariciou com ternura. Um sorriso ensaiado surgiu — sarcástico, debochado — que se fechou tão rápido quanto apareceu.
— Eu não ligo! Se realmente for dois mil dólares por mês, eu aceitava até dar banho nele.
Uma voz seca veio de trás dela.
— Acho que ainda sei tomar banho… mas se algum dia precisar, te chamo.
Harper congelou. Virou-se devagar, encontrando os olhos intensos e calculistas de Simon Moreau. Ele estava de braços cruzados, vestido com preto dos pés à cabeça, e com um leve arqueamento de sobrancelha que a fez querer evaporar dali.
— Você é Simon? — perguntou, tentando soar firme.
— E você é Harper Harris, a estilista cheia de atitude que minha prima tanto elogiou. Vamos ver se vale a fama.
Sem esperar resposta, ele virou as costas.
— O set é por aqui. Traga suas ideias… e mais paciência do que ironia.
Harper engoliu seco. E deu um sorriso amarelo, pois ficou sem resposta para aquela ordem.
Faltavam apenas 10 minutos para o ensaio fotográfico. O estúdio era grande, iluminado por janelas altas e focos que piscavam conforme os testes de luz. Harper entrou com passos firmes, mas o coração inquieto.
Simon estava encostado na bancada, o celular em mãos e a expressão entediada.
— Tens cinco minutos — disse, sem levantar os olhos. — Surpreenda-me.
Ela travou por um segundo. Olhou para o cabideiro repleto de peças caras, tecidos luxuosos, sapatos organizados por cor. Pensou rápido. Caminhou até a arara, pegou uma jaqueta estruturada, combinou com uma saia de couro e uma blusa leve, acrescentou acessórios sóbrios — e entregou tudo à modelo em menos de três minutos.
— Vai dar tempo? — a modelo perguntou, confusa.
— Vai, coloca e me avisa.
Simon finalmente ergueu os olhos ao ver a modelo surgir. Cruzou os braços, analisando. O clique da câmera preencheu o silêncio. A pose, a luz… e então um leve arquejo de aprovação escapou dele.
— Talvez você sirva pra isso mesmo — disse, voltando a olhar o celular. — Está contratada… por enquanto.
Harper disfarçou um sorriso. Sabia que tinha ganhado a primeira batalha.
Harper virou-se, ainda com o ritmo da adrenalina correndo nas veias. Estava prestes a perguntar sobre o pagamento, já com um discurso ensaiado em mente — firme, direto, tentando soar profissional sem parecer desesperada.
Mas antes que ela dissesse uma única palavra, Simon, ainda encostado na bancada, sem tirar os olhos do celular, falou com a mesma frieza de antes:
— cinco mil por mês. Começa amanhã.
Ela congelou por um segundo. Piscou. Não sabia se tinha escutado certo.
— cinco…? — murmurou, confusa.
— Mil. Dólares. Por mês — repetiu, agora largando o celular e caminhando até a câmera, como se tivesse acabado de comentar algo trivial, como a previsão do tempo.
Harper cruzou os braços, tentando manter a postura.
— E os horários?
— Inconstantes. Como eu.
Ela engoliu seco. Aquilo ia ser um teste de resistência emocional. Mas ao mesmo tempo, uma oportunidade com preço alto — e ela estava disposta a pagar.
“É agora que a riqueza vem”pensou. “Eu vou ser rica”.
Emília encostou animada ao lado da amiga. — Graças a Deus deu tudo certo.
— Não foi deus! Ela tem realmente talento. — Finalmente olhou para elas, seu olhar e o de Harper cruzaram-se por longos momentos. Ela sorriu, ainda não acreditando na própria sorte.
Ele pigarreou e desviou o olhar. Seu coração estava acelerado de forma estranha, como antes nunca havia estado.
— Não importa! Deus sempre ajuda seus filhos e nunca os abandona, e a prova disso foi você ter conseguido esse emprego. — animada ela abraçou mais a amiga. — Vamos para casa comemorar. Boate hoje à noite?
— Você acabou de falar em Deus e convida sua amiga para ir a uma boate? Que contraditório Emília.— Disse Himeros. Que com sua presença imponente e beleza de um semi deus grego, acabou chamando atenção das mulheres a volta.
Principalmente de Emília. Que ficou envergonhada ao vê-lo olhar para ela daquela maneira.
— Olá Him. Simon me disse que estava me procurando.— falou agora com menos entusiasmo, parecia com vergonha.
Harper não estava acreditando que sua amiga estava daquele jeito. Se não fosse negra, jurava que ela estava corando.
— Sim! A sua joalharia lançou coleção nova! Estou muito interessado, tenho certeza que vai combinar muito no desfile da próxima semana de moda em Milão.
— Então era por isso? — disse, desanimada.
— O que mais seria? — ele olhou para Harper, nunca antes a tinha visto no Set, muito menos ao lado de Emília.— Quem é?
Ela olhou para Harper, e percebeu que não tinha sido muito educada por não ter apresentado o seu crush a sua amiga. — Essa é a Harper, minha amiga da faculdade. Harper esse é o grande Himeros Thorne. Dono da mais conceituada casa de moda de Chicago.
— A Thorne Design House? — perguntou Harper surpresa. Pois não era só um ateliê qualquer, ele trabalha com grandes marcas e tem seu próprio estilo. Já organizou vários desfiles e duas vezes na semana da moda.
— É mesmo ele — sussurrou para a amiga.
Emília anuiu.
— É uma honra conhecê-lo, eu nem acredito — disse entusiasmada— agora já posso morrer em paz. Mas antes preciso dos cinco mil.
— Bem visto— Falou Emília. — E sobre a proposta de parceria, a gente conversa outra altura! Tens o meu contacto, então me liga quando puderes. Tchau— falou enquanto arrastava Harper para fora do Studio.
— O que foi aquilo? — perguntou Harper. — Vocês os dois já ficaram e acabou se apaixonando não foi?
— Não! Seria bom poder beijar ele. Mas nunca tive coragem e a chance de pegar aquele gostoso. Ele só me procura pra trabalho.— murmurou— que ódio.
— Não sei porquê te importas tanto com isso! Amar não é seguro não. Fuja disso.
— Como tu? Não obrigada! Eu quero ter um namorado… de verdade dessa vez.
— Claro! Eu preciso receber uma transação bancária, ou ter um apartamento beira mar em meu nome.— Disse com entusiasmo.
— Dinheiro, dinheiro, dinheiro, só falas disso? Não existe mais nada importante para você do que ter dinheiro?
— Existe. Um homem rico, que me encha de dinheiro e joias, e carros caros e…
— Vamos logo Harper, você não tem cura mesmo. — murmurou Emília.
Ambas entraram no carro, e voltaram para casa, após mudarem de roupa e se prepararem, foram à boate.
As luzes da cidade pulsavam como um coração agitado. A calçada diante da boate estava tomada por flashes, conversas em vozes altas e perfumes caros que se misturavam no ar quente da noite. Harper desceu do carro ajeitando o vestido justo de cetim preto, o batom vermelho reluzia sob a luz do letreiro neon.
— Pronta? — perguntou Emília, ao seu lado, com um sorriso travesso. Usava um macacão dourado e olhava para a entrada como quem já sabia o que queria.
— Mais ou menos — disse Harper, soltando o cabelo dos dedos. — Mas vou fingir que sim.
O segurança abriu a porta como se já as esperasse. O som grave da batida eletrônica invadiu os ouvidos como uma promessa. O interior era um mar de sombras e luzes estroboscópicas, corpos dançavam em silhuetas sensuais, bebidas brilhavam nos copos altos.
Elas atravessaram o salão sob olhares que se voltavam, não só pelas roupas ousadas, mas pelo magnetismo silencioso de Harper — uma mistura de indiferença e elegância.
— Hoje, nada de pensar em pulseiras perdidas, contratos ou homens difíceis — disse Emília puxando Harper pela mão até o bar. — Só dançar… e talvez flertar um pouco. — Harper sorriu, e os olhos dela brilharam como se pela primeira vez, em muito tempo, estivesse disposta a se permitir algo leve.
A música aumentava, a batida envolvente vibrava no peito, e o mundo lá fora parecia inexistente. Emília puxou Harper para o centro da pista como se a pista fosse delas. Sem pressa, deixaram os corpos guiar o momento — sem olhos fixos, sem pressões, só a liberdade de serem exatamente quem queriam ser.
Harper soltou uma risada leve quando Emília girou no ritmo da música, exagerando de propósito. Os cabelos castanhos da amiga voaram como em um clipe. Harper retribuiu com um rebolado sutil, brincando com os ombros, sentindo-se estranhamente viva.
— Tá se soltando! — gritou Emília perto do ouvido dela.
— Culpa sua! — respondeu Harper, os olhos fechados, a cabeça balançando de leve no ritmo do refrão.
Os dois copos de espumante que tinham tomado antes ajudaram, mas era mais que isso. Era estar longe dos julgamentos, das responsabilidades, da pressão constante. Naquela pista, entre luzes dançantes e um som que parecia massagear a alma, Harper não era a garota que perdeu uma herança. Era só uma mulher dançando, livre, com a melhor amiga.
— Hoje somos só nós! — disse Emília, sorrindo, puxando-a para outro giro.
E por instantes... eram mesmo.
Do alto, na área VIP, com um copo de uísque entre os dedos e os cotovelos apoiados na grade, Eros observava em silêncio. As luzes coloridas refletiam nos olhos atentos, mas nada chamava mais sua atenção do que as duas mulheres que dançavam no centro da pista. Uma em especial — a de cabelos escuros, vestida de maneira simples, mas com uma atitude que desafiava todo o resto ao redor.
Ela se movia como quem não devia nada a ninguém, como quem sabia exatamente onde estava e, ainda assim, fazia questão de esquecer. Aquilo o intrigava.
— Conhece ela? — perguntou alguém ao seu lado, mas Eros não respondeu.
Seu olhar seguiu Harper quando ela deu risada e jogou a cabeça para trás, livre, despreocupada. Não era como as outras que frequentavam aquele lugar — não forçava charme, não buscava aprovação. Dançava para si mesma.
Eros inclinou o copo, sem tirar os olhos dela.
— Ainda não… — murmurou. — Mas quero conhecer.
Eros desceu as escadas com calma, sem pressa, como se cada degrau fosse medido. No meio da multidão, seus olhos não deixavam Harper. Ela ainda dançava com Emília, distraída, completamente alheia ao fato de que estava sendo observada — caçada, talvez.
A música mudou, o ritmo ficou mais denso, mais íntimo. Quando ele se aproximou, Harper nem notou de imediato. Mas então sentiu a presença firme e quente por trás dela. Um cheiro discreto de madeira e couro, um toque de energia silenciosa que fez seu corpo reagir antes da mente.
Eros não falou nada. Apenas se alinhou ao ritmo dela, respeitando seu espaço, mas se fazendo presente. Harper virou-se parcialmente, confusa por um segundo, mas os olhos dele encontraram os dela com naturalidade desconcertante.
Ela franziu o cenho, sem reconhecê-lo. Mas também não se afastou. O corpo dela acompanhou o dele, como se conhecessem a mesma linguagem — e quanto mais dançavam, mais o mundo ao redor desaparecia. Havia tensão ali, pulsante.
Eros sorriu de lado.
— Gosta de dançar assim com estranhos? — perguntou, voz rouca, rente ao ouvido dela.
Harper respondeu com um meio sorriso desafiador.
— Só com os que sabem dançar.
A música, o toque, nada daquilo parecia ser ocasional.
— Como você se chama? — perguntou ela.
Ele sorriu!