ARTHUR VASCONCELOS
A Avenida 23 de Maio, era um rio de luzes vermelhas e impaciência. Mas dentro do meu carro, o tempo havia parado. O som das buzinas lá fora era um ruído de fundo irrelevante. O único som que importava era a respiração superficial de Camila.
Eu a observei. Ela estava pressionada contra o banco de couro, com os olhos arregalados, a pele pálida sob a luz azulada dos painéis do carro e vi o medo nela. Não o medo de uma esposa pega em uma mentira trivial. Era o medo de alguém que sabe que está em perigo.
A mensagem ainda brilhava na tela do meu celular.
DESCONHECIDO: "Sua esposa anda fazendo coisas escondida no banheiro da empresa. Pergunte o que ela estava fazendo lá às 10 horas."
Era vaga, venenosa e sem dúvida, enviada por alguém que a estava vigiando.
Alguém sabia onde ela estava. Alguém sabia a hora exata.
O que ela estava fazendo no banheiro?
Camila era transparente como vidro para mim, ou pelo menos eu gostava de pensar que era. Ela não tinha amantes, se tivesse eu