CAMILA NOGUEIRA
O elevador desceu lentamente, parando em alguns andares intermediários para que funcionários exaustos entrassem. Eu me apertei contra a parede de metal gelado, segurando minha bolsa contra o peito. Ao meu lado, meu pai assobiava baixinho uma melodia antiga.
Para ele, o dia tinha sido produtivo. A filha herdeira finalmente estava mostrando interesse nos negócios, sujando as mãos de poeira e organizando a bagunça administrativa.
Quando as portas se abriram no saguão, o ar da rua invadiu o prédio, trazendo o cheiro de escapamento, chuva iminente e a cacofonia do centro de São Paulo no horário de pico.
— Tem certeza de que não quer que eu acompanhe você, filha? — meu pai perguntou, parando na calçada movimentada enquanto olhava para o fluxo intenso de carros e pedestres. — O centro fica perigoso a essa hora.
— Não precisa, pai — forcei um sorriso tranquilo, ajeitando a alça da bolsa no ombro. — Vá descansar. Você parece exausto.
Ele sorriu, beijou minha testa com carinho