CAMILA NOGUEIRA O ar na sala de estar de casa estava quase irrespirável. Eu sentia uma sensação ruim, parecia que algo terrível estava para acontecer naquele silêncio de velório. Meu pai, Roberto, um homem que sempre foi o retrato da confiança, agora parecia uma sombra de si mesmo. Ele andava de um lado para o outro, como um bicho na jaula, e só parava para encarar a garrafa de uísque, lutando com a tentação de beber. Minha mãe, Luzia, estava encolhida na ponta do sofá, apertando as próprias mãos com tanta força que os dedos estavam brancos. Eles tinham me mandado uma mensagem pedindo uma “conversa importante”. Só pelo tom, eu já tinha ficado com o pé atrás. Agora, olhando para eles, eu tive certeza que não era uma conversa, era o anúncio de um problema muito grande. — Então? — quebrei o silêncio. — Vão me dizer o que aconteceu ou vão me deixar aqui morrendo de curiosidade? Meu pai parou de andar. Quando ele me olhou, eu vi o tamanho do estrago nos olhos dele. O orgulho, a a
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