O dia amanhecia sombrio sobre Vo’korr, o céu permanentemente coberto por nuvens tão pesadas que pareciam sufocar até a esperança.
Lilith me puxou discretamente para uma parte esquecida das ruínas do castelo — uma antiga sala de orações abandonada, onde o musgo cobria o chão rachado e as janelas quebradas permitiam a entrada de fiapos de névoa.
— Rápido, antes que eles notem — sussurrou ela, seus olhos inquietos, brilhando sob a luz tênue.
Com o coração batendo feito um tambor, balancei a cabeça e a segui.
Ponto de vista de Elora:
Meu estômago se contorcia de nervosismo. E se nos pegassem? E se Darian... Não. Não era sobre ele. Era sobre mim. Sobre sobreviver.
Sobre lutar.
Lilith desenhou um símbolo antigo no chão com um pedaço de carvão — uma espiral com linhas onduladas, familiar de uma forma que me deu arrepios.
— Você sente, não sente? — ela perguntou, ofegante.
— Sinto... alguma coisa — admiti.
Ela sorriu de um jeito estranho, quase triste.
— O sangue de Velora corre em você, Elora. Só precisa ser despertado.
Fechei os olhos quando ela me pediu e, lentamente, comecei a ouvir.
A respiração da terra.
O sussurro das pedras.
A fúria contida do vento.
Poder.
Cravado em cada fibra minha.
Ponto de vista de Darian:
Do alto da sacada escondida, meus olhos a seguiam.
Minha escrava... minha maldita tentação.
O que ela fazia com aquela traidora de olhos astutos?
Cada movimento de Elora era como uma faca atravessando minha pele.
Ela era minha. E se ousassem roubar isso de mim, eu destruiria todos.
**
Lilith sorriu de novo, animada.
— Você já está sentindo, não é? — Ela tomou minha mão com cuidado. — Em breve poderá controlar isso, Elora. E então, ninguém poderá te quebrar.
Eu queria acreditar nela.
Queria com tanta força que doía.
**
De repente, um barulho no corredor nos fez congelar.
Passos pesados.
Presença dominante.
Darian.
Quando ele surgiu, a atmosfera mudou de imediato, como se o próprio ar implodisse.
Lilith se encolheu, largando minha mão rapidamente.
Eu me virei, com o coração disparado, encarando o Rei Lycan.
Ponto de vista de Elora:
Meu coração ameaçava rasgar meu peito.
Seus olhos... tão negros e furiosos que pareciam queimar minha alma.
Eu queria desviar o olhar, me esconder.
Mas uma parte de mim — uma parte sombria e insana — queria desafiá-lo.
Queria ver até onde iria sua fúria.
— O que estão fazendo aqui? — Darian rosnou, cada palavra carregada de ameaça.
Lilith tentou falar, mas a voz falhou.
Então, eu assumi.
— Estávamos apenas limpando... meu rei. — A mentira saiu amarga na minha língua.
Darian deu um passo à frente.
— Limpando? — Ele inclinou a cabeça, examinando o símbolo de carvão no chão. — Parece mais... uma traição.
Sua voz era baixa, quase suave.
Muito mais perigosa assim.
Ponto de vista de Darian:
Queria esmagá-los.
Queria puxá-la para mim, sentir se ela tremia de medo ou de excitação.
Queria marcar aquela pele pálida até que ela lembrasse a quem pertencia.
A mim.
Sempre a mim.
Ele parou muito perto.
Perto o bastante para eu sentir o cheiro selvagem de sua pele — musgo, fumaça, sangue.
Por um momento, o mundo pareceu parar.
**
Lilith pigarreou, tentando quebrar a tensão.
— Nós... estávamos comentando... sobre Aldric... — murmurou.
Eu arregalei os olhos, mas já era tarde.
— Aldric? — Darian repetiu, sua voz ficando ainda mais letal.
Lilith, tola e nervosa, continuou.
— Estávamos dizendo... que ele parece... ter interesse em Elora.
Silêncio mortal.
Antes que eu pudesse negar, explicar, fugir, Darian se moveu.
Sua mão agarrou meu queixo, forçando-me a olhar para ele.
Ponto de vista de Elora:
Seu toque era rude, mas o calor que disparou através de mim foi indecente.
Eu deveria sentir medo.
Deveria querer me afastar.
Mas meus joelhos enfraqueceram.
E tudo o que consegui fazer foi ofegar, tentando conter o tremor do meu corpo.
**
— Você pertence a alguém, Elora? — Darian perguntou, voz baixa e assassina.
Eu o encarei, o medo e algo muito mais perigoso fervendo em meu sangue.
— Pertencerei... a quem merecer — respondi antes que pudesse me controlar.
Por um segundo, seus olhos brilharam, pura luxúria misturada à raiva.
Então ele me soltou, como se eu o tivesse queimado.
Sem outra palavra, Darian se virou, sua capa ondulando como fumaça, e desapareceu no corredor.
Mas não antes de lançar um último olhar — quente como uma promessa.
**
Ponto de vista de Darian:
Ela seria minha.
Não como escrava.
Não como serva.
Minha em cada gemido, em cada lágrima, em cada suspiro.
Eu a quebraria... ou me quebraria por ela.
**
Fiquei ali, com o coração descompassado, sentindo o eco de sua presença como uma corrente invisível ao redor da minha garganta.
Lilith me olhou, pálida.
— Você é louca... — murmurou. — Ou vai ser a ruína dele...
Talvez eu fosse as duas coisas.
Talvez... eu já fosse a ruína de nós dois.