Helena
Clara chegou em casa com os olhos brilhando. Falava rápido, cheia de ideias, planos, nomes de mulheres que eu nunca ouvi, projetos que estavam crescendo. Ela parecia viva. Mais do que nunca.
E eu? Eu devia estar feliz. Mas senti um aperto no peito.
Não por inveja. Não por medo. Mas por algo que eu não conseguia nomear.
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— Mãe, a gente vai ocupar o auditório da prefeitura. Já temos trinta inscritas. E Luma conseguiu apoio de uma ONG. Você acredita?
— Acredito — respondi. Mas minha voz saiu mais baixa do que eu queria.
Ela percebeu. Clara sempre percebe.
— Tá tudo bem?
— Tá. Só tô cansada.
Mentira. Eu não tava cansada. Eu tava... desconectada.
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Naquela noite, sentei com Arthur na varanda. Ele me olhou com aquele jeito calmo de quem sempre espera que eu diga antes de perguntar.
— Você tá com medo?
— Não sei. Talvez. Clara tá crescendo tão rápido. Tá virando outra. E eu... não sei se tô acompanhando.
Ele respirou fundo.
— Ela tá virando o que você sempre quis que ela fosse.
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