O dia amanheceu com cheiro de chuva no ar, mesmo que o céu ainda estivesse limpo. Rafael preparava café enquanto Manu desenhava deitada no tapete da sala e Bento brincava no canto com as pecinhas de madeira que Rafael havia esculpido com ele dias antes.
Lívia ainda dormia. Era raro, mas naquela manhã Rafael quis deixá-la descansar mais. Cuidar da casa, dos filhos — sim, agora ele pensava assim — o preenchia com um tipo de paz que ele não sabia que existia.
— Quer mais leite, Bento? — ele perguntou, agachado ao lado do menino.
Bento levantou os olhos. Havia sempre um segundo de hesitação neles, como se ele ainda testasse todos os afetos que recebia.
— Quero, pai.
Rafael parou. O coração, por um instante, pareceu esquecer de bater.
Pai.
A palavra ecoou no peito dele como um trovão silencioso.
Não foi dita com festa. Nem com cerimônia.
Foi só… natural.
Como se sempre tivesse sido assim.
Ele sorriu, disfarçando a emoção, tentando não assustar o menino. Mas seus olhos já estavam marejados.