Era cedo, mas Rafael já estava acordado. O cheiro de café recém-passado se espalhava pela cozinha enquanto ele, de pé diante da pia, observava a casa em silêncio. A torneira pingava com um ritmo irritante. O piso da sala ainda tinha uma tábua solta que prometia ser consertada “em breve”, e o quartinho dos fundos… bem, o quartinho ainda era só um depósito de caixas velhas e ferramentas esquecidas.
Ele suspirou.
A gravidez de Lívia estava entrando no oitavo mês, e o peso do tempo parecia se acumular nos ombros de Rafael. Era como se cada semana o lembrasse de algo que ainda não estava pronto. O bebê vinha aí, e ele ainda se perguntava se conseguiria ser o homem que todos esperavam. O pai que Bento precisava. O abrigo que Manu admirava. O amor que Lívia confiava.
— Está queimando os olhos da parede ou pensando em arrancar tudo e começar de novo? — brincou Lívia, surgindo atrás dele, envolta no cheiro doce de sabonete de lavanda.
Ele riu, sem graça.
— Estou tentando entender como es