O vento daquela tarde parecia mais frio do que o habitual. Mesmo com o sol ainda alto no céu, havia algo no ar que trazia um arrepio sutil — como quando a gente pressente que alguma coisa está para mudar, mesmo sem entender o quê.
Rafael havia acabado de recolher o varal. As roupas ainda estavam quentes do sol, e o cheiro de sabão misturado com lavanda era um dos pequenos prazeres simples que ele aprendera a amar na rotina com Lívia. Na varanda, Manu dormia de bruços no sofá, um livro de desenhos ainda aberto nas mãos. Bento estava no quarto, ouvindo música com fones de ouvido, algo que fazia quando queria se desconectar do mundo.
Foi então que o portão bateu. Três vezes.
Rafael olhou em direção à rua com as sobrancelhas franzidas. Não esperavam visitas. Ele desceu os degraus e caminhou até o portão, sentindo o coração acelerar sem motivo claro.
Era o carteiro.
— Boa tarde. Entrega pro senhor Rafael Mendes — disse o homem, estendendo um envelope pardo, com a borda amassada.
— Obrigado