Desde a noite da fogueira, algo entre eles havia mudado.Não se falavam todos os dias, mas quando se viam — e se viam, inevitavelmente — tudo ficava mais lento, mais carregado, como se o mundo estivesse conspirando para fazer o tempo durar mais. Os olhares entre eles não eram mais acidentais. Eram buscados. Prolongados. Quase toques. Quase carícias.Rafael aparecia de tempos em tempos: trazia frutas da fazenda, um vidro de doce de leite feito por uma tia distante, ou apenas parava para perguntar como estavam. E Lívia, mesmo sem esperar, sempre parecia pronta.Naquela tarde, Manu tinha ido brincar com os filhos de Dona Estela. E pela primeira vez desde que chegara à cidade, Lívia estava sozinha em casa. Rafael apareceu sem avisar, como a chuva que começa silenciosa.— Posso entrar?— Sempre pode — respondeu, sem hesitar.Ele entrou devagar, os olhos passeando pelas paredes simples, pelos livros na estante improvisada, pelos detalhes que ela ia construindo aos poucos. Parou diante de um
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