A noite envolvia a cidade com seu manto silencioso, mas dentro do meu apartamento, a tensão era palpável. Entrei devagar, o ar parecia pesado, denso, como se o próprio ambiente estivesse esperando por algo — um choque, uma revelação, uma verdade que eu ainda não sabia que precisava encarar. Baran estava lá, encostado no batente da porta da sala, seus olhos escuros como o céu sem estrelas, perfurando minha alma antes mesmo de eu pronunciar uma palavra.
“Você demorou,” disse ele, sem sequer um traço de brincadeira ou reprovação na voz — apenas uma constatação dura, como um golpe.
Eu podia sentir o coração pulsando forte sob minhas costelas, tentando acelerar, fugir daquele momento, mas a lógica me segurava firme. “Havia uma emergência na clínica,” respondi, mantendo o tom firme, ainda que minha voz tremesse levemente. “Você sabe como é.”
Ele deu um passo em minha direção, aproximando-se com aquela presença quase magnética, aquele ar de dono do mundo que sempre me desarmava. “Sei, sei qu