Mundo de ficçãoIniciar sessãoCamille nunca conseguiu definir exatamente quando começou a se aproximar de Adam. Talvez tenha sido naquele primeiro café, ou no modo como ele sempre surgia nas horas certas, com perguntas simples e olhares que não pediam nada, mas ofereciam tudo. Tudo começou devagar. Na clínica, ele aparecia às vezes para consertar algo, entregar documentos, buscar remédios. Conversavam pouco no início, mas cada conversa parecia abrir uma porta que nenhum dos dois sabia que ainda existia. Os encontros ficaram frequentes. Às vezes no café. Às vezes na praça. Às vezes nos degraus da clínica, depois que todos iam embora. Até que, num sábado quente, decidiram caminhar pela cidade. Sentaram num banco perto da fonte da praça. Foi ali que Adam falou, pela primeira vez, sobre seu passado.
— Eu namorei três anos, achei que ia casar com ela.
Camille ficou em silêncio, apenas ouvindo. Ele tinha aquela sinceridade crua que não era dramática era honesta.
— Ela terminou comigo do nada. E dois meses depois apareceu namorando um cara de outra cidade. Rico. Estudante de Direito.
Camille baixou o olhar, sentindo a dor dele como se fosse um eco da própria. Adam respirou fundo.
— Eu não soube lidar. Me senti… descartável. Pequeno.
Ela fechou as mãos no colo, porque aquilo a atravessava. Ela sabia exatamente o que era isso. Adam ergueu os olhos, curioso.
— E você? O que te trouxe pra cá?
Por um instante, Camille pensou em mentir. Quase se escondeu. Mas havia algo nele que não pedia uma história bonita pedia verdade.
— Eu fui traída. Ela disse, simples.
Ele não disse nada, apenas esperou.
— Era alguém que eu amava muito. Achei que ia me casar com ele. Estávamos juntos desde o terceiro semestre.
Adam engoliu seco, atento. Camille inspirou fundo.
— Ele me traiu com uma colega da faculdade, o peito dela apertou ao verbalizar. E fez pior: me fez parecer idiota. Todo mundo soube antes de mim.
Adam ficou imóvel. Nada de pena no olhar apenas indignação silenciosa.
— Ele a assumiu logo depois?
— Na mesma semana. Camille riu, amarga.
Um silêncio pesado caiu. Mas não era desconfortável. Era um silêncio que abraçava. Adam se aproximou um pouco mais.
— Isso… deve ter doído.
— Doeu, ela admitiu, e depois que acabou, eu me fechei. Decidi que não ia amar ninguém por muito tempo. Talvez nunca mais.
Adam concordou. Foi a primeira vez que Camille percebeu: as cicatrizes dele e as dela se encaixavam como peças de um quebra-cabeça quebrado. Ali, naquela conversa aparentemente simples, o romance começou. O primeiro beijo veio semanas depois, numa noite, Camille estava fechando a clínica, recolhendo pastas, quando Adam apareceu na porta com duas garrafas de refrigerante e um sorriso que ela já reconhecia a quilômetros.
— Vim te oferecer uma pausa. E também... Senti vontade de te ver.
Camille sorriu, apesar de tentar esconder.
— Uma pausa é sempre bem-vinda.
Eles sentaram no degrau da calçada, como adolescentes mesmo tendo vinte e três anos e mais cicatrizes do que gostariam de admitir. Conversaram até a noite ficar mais silenciosa. Quando ela riu de algo que ele disse, Adam parou. Como se tivesse levado um impacto.
— Que foi? Ela perguntou, ainda sorrindo.
Ele a olhou como quem está vendo um nascer do sol pela primeira vez.
— Acho que nunca tinha te visto rir de verdade.
Camille sentiu o estômago afundar.
— E isso é bom ou ruim?
— É bonito. Muito bonito.
Ela desviou o olhar, corou como não fazia há anos. E foi então que Adam passou a mão pelo rosto dela, devagar, como quem pede permissão com o toque e não com palavras. Camille fechou os olhos antes mesmo de pensar. O beijo aconteceu sem pressa. Profundo, delicado, quente, o tipo de beijo que faz a gente sentir que não está mais sozinha no mundo. Ele segurou o rosto dela com cuidado, como se pudesse quebrá-la. E ela segurou a camisa dele como se precisasse de apoio para não desabar. Quando se afastaram, Camille respirou fundo, tentando processar o que acabara de acontecer.
— Isso foi…
— Muito certo, Adam completou.
E era. Correto. Inesperado. Intenso. Perigoso, talvez. Mas completamente certo.
A primeira noite juntos aconteceu semanas depois. Era um sábado. Adam a buscou em casa para dar uma volta. Eles caminharam pela praça, riram, conversaram. E, no final da noite, quando ele a deixou na porta, Camille segurou a mão dele por mais tempo do que deveria.
— Não precisa ir. Ela sussurrou.
Adam ficou paralisado por um segundo. Não esperava. Mas o olhar dela… o olhar dizia tudo. Camille o guiou pela mão, e o resto aconteceu. Não foi algo impulsivo. Adam tocou a cintura dela primeiro, com uma hesitação bonita, quase reverente, como se estivesse pedindo permissão com a ponta dos dedos. O toque era quente, firme, mas gentil. Os olhos dele percorriam o corpo dela como quem decora um mapa que deseja seguir. Camille sentiu o corpo responder antes mesmo da mente: o arrepio subindo pela nuca, o suspiro involuntário, o desejo pulsando.
A boca dele era quente, suave, explorando a dela com calma, aprofundando o beijo aos poucos. As mãos dele subiram devagar pelas costas dela, traçando o caminho da espinha, fazendo o corpo inteiro de Camille querer se curvar para mais. Quando ele a puxou para perto, ela não resistiu. O peito encostou no dele, o calor aumentou, a respiração dos dois se misturou em pequenos suspiros que escapavam sem permissão. Havia intenção no beijo. Havia desejo, respeito, cuidado, admiração.
Como se o corpo dele adivinhasse cada necessidade dela, Adam a tocava devagar, com a precisão de alguém que já a desejava há muito tempo. As mãos firmes deslizavam por sua pele como se quisessem memorizar cada curva, cada arrepio. O beijo vinha quente, profundo, carregado daquela urgência contida que faz o mundo perder o foco. Quando o clímax se desfez em respirações descompassadas, o amor já pulsava forte demais para ser ignorado.







