Capítulo 5 - As Sombras Retornam

O destino tem um talento estranho para ressuscitar fantasmas. Alguns retornam por amor, outros por arrependimento, e alguns… por puro orgulho ferido. Naquele mês, dois fantasmas voltaram para Pineville. Dois nomes que Camille e Adam nunca imaginaram ouvir de novo. E ambos voltaram ao mesmo tempo. Clara Whitmore não era o tipo de mulher que aceitava perder. Filha do dono de um dos mercados da região, bonita de um jeito clássico e arrogante de um jeito discreto, crescera com a sensação de que tudo lhe pertencia: as atenções, os olhares, as oportunidades… e, por muito tempo, Adam Bennett.

O namoro dos dois durou três anos. Foi intenso, bagunçado, cheio de discussões e reconciliações dramáticas. Clara amava Adam, ou achava que amava. Na verdade, amava a ideia de ser “a escolhida”. E Adam, um homem bonito, paciente e humilde, demorou a perceber que ela não amava quem ele era, mas sim o que representava para ela.

Quando terminou com ele, foi rápida, fria e cruel. Disse que ele “não tinha ambição”, que a vida com ele seria pequena demais para seus sonhos. E, dois meses depois, já aparecia com outro rapaz da cidade vizinha, estudioso, rico, do tipo que agradava seus pais. Adam sofreu. Muito mais do que deixou transparecer. Mas a vida seguiu.  A notícia de que o relacionamento dela com o rapaz da cidade vizinha havia terminado se espalhou rápido. Foi assim, amargando a própria queda, que decidiu voltar a Pineville para “recomeçar”. Ou, pelo menos, era isso que dizia. A verdade é que ela voltou por causa de Adam.

Ela o deixou acreditando que tinha “opções melhores”. Achava que o mundo dele era pequeno demais para ela. Mas o homem por quem ela o trocou descobriu cedo demais o que Pineville sempre soube: Clara era intensa demais para segurar, mas vazia demais para manter. O relacionamento terminou de forma humilhante. E o orgulho dela quebrou junto. Foi assim, arrastando malas e cicatrizes escondidas, que Clara voltou para Pineville. A primeira vez que viu Adam novamente foi um golpe. Ele estava diferente. Mais sério. Mais forte. Com um olhar seguro que não existia quando estavam juntos.

E quando Clara o viu sorrir para Camille, um sorriso sincero, confortável, íntimo, sentiu algo amargo subir pela garganta. Do outro lado da cidade, outro fantasma também voltava. Lucas. O homem que destruiu Camille anos antes. O homem que a traiu na faculdade de forma pública, cruel, humilhante. O homem que ela amou e que esmagou o amor sem olhar para trás. Ele não voltou por acaso.

A verdade é que a vida dele nunca mais foi a mesma depois que ela foi embora. Nenhuma mulher teve o sorriso dela. A inteligência dela. A força silenciosa dela. O arrependimento corroeu Lucas durante o último ano. E quando soube que Camille estava morando em uma cidade pequena chamada Pineville, trabalhando em uma clínica algo dentro dele reacendeu. Ele pegou o carro e dirigiu até lá sem pensar em consequências. Quando a viu na porta da clínica pela primeira vez, o impacto foi maior do que esperava. Ela estava mais bonita. Mais madura. 

Camille… ele disse, quase sem ar.

Ela apenas fechou os olhos, como quem reabre uma ferida antiga. Ele tentou sorrir.

— Eu precisava te ver. Precisava consertar o que destruí.

Camille nunca esperou ver Lucas em Pineville. Quando ele apareceu na frente da clínica, o passado inteiro caiu sobre ela como uma onda gelada. Camille não conseguiu dizer nada por alguns segundos. Levou Lucas para o lado da clínica. Camille queria distância de olhares curiosos.

— Eu fui um idiota. Um completo idiota. Eu sei disso.

— Lucas…

— Deixa eu terminar, ele pediu.  Eu perdi você porque fui imaturo, egoísta e covarde. E quando percebi, já era tarde.

Camille cruzou os braços, tentando manter distância emocional.

— Isso foi há anos.

— Não para mim. Ele respondeu, sincero pela primeira vez em muito tempo. Eu nunca deveria ter deixado você ir embora. Eu nunca deveria ter feito… aquilo.

 Camille desviou o olhar.

— Eu não sou mais aquela pessoa, Lucas.

— Eu sei. Ele disse. É exatamente por isso que eu vim até aqui. Eu precisava ver você, olhar nos seus olhos e dizer… me perdoa.

Ela respirou fundo.

— Por favor, vá embora Lucas. O que você precisava dizer, já disse. O que eu precisava ouvir, já ouvi. Acabou.

Lucas deu um passo à frente. Camille deu um passo atrás.

— Pineville é muito pequena.  E eu não estou interessada em reviver histórias que já deveriam ter morrido.

Ela deu um passo para mais perto, para que ele não interpretasse suas palavras de forma branda:

— Você não é bem-vindo aqui.

E antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, ela abriu a porta da clínica, deu meia-volta e disse a última frase sem encará-lo:

— Não volte aqui. Por favor. Não me obrigue a ser mais dura do que já estou sendo.

Ela entrou. Fechou a porta. Exalou como se tirasse um peso de anos das costas. Mas Camille não estava sozinha. Clara observava tudo de longe. E viu o suficiente para entender. O sorriso de Clara se curvou, lento e venenoso. Se havia um ex-amor na jogada, havia também uma rachadura no relacionamento novo.

— Interessante…ela sussurrou.

Quando Camille se preparava para sair da clínica, Clara apareceu de surpresa.

— Você que é a enfermeira nova, né?

— Sou. Camille respondeu, educada. Clara sorriu, suave demais.

— Pineville é uma cidade tranquila. Perfeita para recomeços… e para amores antigos voltarem a florescer.

Camille piscou, sem saber se aquilo era uma provocação ou um aviso.

— Desculpe…?

Clara inclinou a cabeça, ainda sorrindo.

— Só estou dizendo que, aqui, o passado sempre encontra um jeito de voltar. E foi embora antes que Camille respondesse.

A frase ficou ecoando na mente dela: O passado encontra um jeito de voltar.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App