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Capítulo 2 - O silêncio depois do reencontro

O caminho de volta para casa pareceu mais longo do que nunca. Camille dirigia em silêncio, o rádio desligado, o pensamento longe, talvez longe demais. As ruas pareciam as mesmas, mas dentro dela, tudo estava diferente. O encontro inesperado com Adam ainda ecoava como uma música antiga. O som do nome dele, o olhar, o modo como o tempo o transformou. Era como se o passado tivesse voltado para cobrar algo que ela fingia ter esquecido.

Quando estacionou diante do prédio, ficou alguns segundos imóvel, as mãos presas no volante. Respirou fundo, tentando colocar os pensamentos em ordem. “Foi só um acaso”, murmurou para si mesma. “Nada mais.” Mas o corpo sabia que era mentira. Subiu o elevador sentindo um peso estranho no peito. Abriu a porta e encontrou o apartamento mergulhado em um silêncio reconfortante. Largou a bolsa no sofá e tirou os sapatos. O entardecer se filtrava pelas cortinas, projetando tons alaranjados nas paredes. Ela gostava dessa hora do dia, quando tudo parecia suspenso, como se o mundo respirasse entre o fim e o começo.

Mas o momento de paz durou pouco. A campainha tocou. Uma, duas vezes. Camille hesitou. Não esperava ninguém. Quando abriu a porta, o ar do corredor entrou junto com uma lembrança amarga.

— Oi, Cam, a voz era familiar demais, carregada de um sorriso ensaiado.

 Lucas Miller.

O homem que ela amou intensamente um dia. O mesmo que a destruiu sem hesitar. Por um instante, ela pensou em não deixar que ele entrasse. Mas recuou meio passo, automática.

 — Lucas… você não costuma aparecer sem avisar.

 Ele segurava uma garrafa de vinho e uma sacola de papel.

 — Pensei que a gente podia jantar juntos, respondeu, com um tom leve, como quem busca normalidade.

 — Foi um dia cheio, né?

 Camille cruzou os braços.

— Foi. Como todos.

— Pacientes, burocracia, aquele problema com o novo convênio... ele sorriu, tentando quebrar o clima.

— A clínica tá virando uma maratona.

Ela assentiu, seca. Eles trabalhavam juntos havia mais de 6 anos. Ele, médico e ela enfermeira da Morgan & Miller Health Center, sócios desde que o projeto cresceu. Uma parceria profissional que funcionava melhor do que o relacionamento pessoal que um dia tiveram. Mas havia dias, como aquele, em que a simples presença dele parecia pesar demais. Lucas colocou a sacola sobre a bancada.

— Trouxe jantar. Achei que você pudesse querer uma pausa.

 Camille respirou fundo.

 — Uma pausa seria ótima. Só não sei se precisava ser aqui. 

 Ele a olhou por um segundo, o sorriso diminuindo.

 — Eu só queria ver você.

 — A gente se vê todos os dias, Lucas, respondeu num tom calmo, mas firme, o expediente inteiro.

 Ele hesitou, os olhos buscando algo no rosto dela.

 — Você tá diferente. 

 — Cansada, só isso.

 — Cansada eu sei reconhecer. Isso é outra coisa. 

 Camille desviou o olhar, foi até a janela e apoiou as mãos na moldura.

 — Não começa, por favor.

 — Não tô começando nada, só queria entender o que tá acontecendo.

 Ela se virou.

 — Nada.

 Lucas deu um meio sorriso descrente.

 — A gente trabalha junto há anos. Eu conheço seu tom de voz, Cam. Você não tá bem.

 Camille respirou devagar, como quem escolhe cada palavra.

— Eu tô. Só quero um pouco de silêncio hoje.

 — Silêncio ou distância? Ele perguntou, e o olhar dizia mais do que a voz.

Ela não respondeu. A pergunta o atingiu também. O ar ficou pesado, cheio de tudo o que eles não conseguiam resolver. Lucas abaixou a cabeça por um momento, mexendo na garrafa sem abrir.

— Eu sei que você ainda guarda mágoa do que eu fiz, disse, mais sério.

— Eu sei que errei. Mas, de algum jeito, a gente reconstruiu algo. Eu pensei que...

— Que o tempo apaga tudo?  cortou ela, amarga.

— O tempo não apaga. Só cobre de poeira.

O silêncio caiu de novo. Ele passou a mão no cabelo, frustrado.

— Eu só quero uma chance de mostrar que eu mudei.

Camille balançou a cabeça, cansada.

— Lucas, a gente trabalha bem juntos. Isso já é mais do que eu imaginava que conseguiríamos depois de tudo. Não força o que não existe mais.

Ele se aproximou um pouco.

— Eu quero você inteira de novo.

Ela segurou o olhar dele por um segundo, e respondeu quase num sussurro:

— Destruíram essa parte de mim.

A frase o desmontou. Lucas respirou fundo, tentando disfarçar o impacto.

— Eu sei. Mas ainda acredito que ela pode voltar.

Camille desviou o olhar, foi até a bancada e pegou a taça.

— Lucas, eu tô cansada. Quero tomar um banho e dormir.

Ele ficou parado por um instante, o rosto dividido entre raiva e impotência.

— Tudo bem, amanhã a gente conversa sobre os orçamentos da nova sala, tá?

Ela assentiu, sem emoção. Ele caminhou até a porta, mas antes de sair, olhou para trás.

— Um dia você ainda vai deixar alguém te amar de novo.

Camille não respondeu. Apenas esperou que ele saísse. O som da porta se fechando foi quase um alívio. Por um momento, o silêncio pareceu reconfortante outra vez. Mas então veio o peso da lembrança. Adam. O olhar dele, a calma, o controle. A diferença gritante entre o homem que a machucou e o homem que, sem querer, ainda a fazia sentir. Camille encostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos. Tudo o que ela queria era esquecer. Mas o passado estava vivo demais.

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