Ana
A garganta já doía. Eu já tinha gritado o nome da Sônia umas vinte vezes — com variações de “socorro”, “abre aqui” e até “eu juro que pago hora extra” — e nada.
O silêncio do outro lado da porta era humilhante.
Encostei na parede e respirei fundo.
— Acho que ela esqueceu da gente — murmurei, exausta.
Lex, sentado no chão com as pernas esticadas e as mãos cruzadas atrás da cabeça, me olhou com calma.
— Relaxa. Mais cedo ou mais tarde alguém vai sentir falta da gente.
— Eu não sei, Lex. Você é o tipo que pode desaparecer do mapa que ninguém estranha.
— Engraçadinha. — Ele deu um sorriso torto. — Senta aqui, vai. Ficar de pé só vai te deixar mais irritada.
Suspirei e sentei, deixando o balde do lado. O depósito era pequeno, quente e com cheiro de sabão. O silêncio ali dentro parecia alto demais, e a presença dele tornava tudo mais apertado — ou era só o meu coração que não sabia se batia ou se parava.
— Acha mesmo que alguém vai perceber? — perguntei, ainda desconfiada.
— Claro. A Sô