Ana
Duas horas depois, eu estava sentada numa sala branca que tinha cheiro de desinfetante forte o suficiente pra arder no nariz. Uma luz fria vinha de cima, me deixando com a cara pálida, quase de fantasma. Eu estava com uma ficha numa mão e uma caneta na outra, mas parecia que eu tava segurando um tijolo e um galho quebrado, porque minhas mãos não paravam de tremer.
E pior: ainda tinha sangue nelas.
Sangue dele.
Eu ficava olhando praquelas manchas secando nos meus dedos, como se meu cérebro estivesse tentando entender o que tinha acontecido… mas não conseguia. Era como se eu tivesse assistido tudo em câmera lenta e ao mesmo tempo rápido demais.
Olhei pra ficha. Letra quadrada, clara:
“Marcos Santana.”
Meu estômago virou na hora.
Mark.
Eu fiquei encarando aquele nome por vários segundos, o coração batendo rápido demais. Era como se ver o nome dele ali me jogasse de volta pro chão frio da rua, pro cheiro de pólvora, pro barulho do tiro que ainda ecoava na minha cabeça como um trovão