Ana
Eu não sei quanto tempo fiquei no banho. Só lembro da água quente batendo nos meus ombros, e eu parada ali, igual um robô quebrado. Não tinha força pra me mexer. A cabeça parecia cheia de fumaça, pesada, como se tivesse acontecido um terremoto dentro dela. Quando finalmente desliguei o chuveiro, a água que escorria já não tinha mais sangue, mas mesmo assim eu ainda me sentia suja por dentro.
Me enrolei na toalha e respirei fundo. Um, dois, três. Eu precisava me concentrar. Precisava funcionar. Mark estava no hospital por minha causa. Aquilo era o que me empurrava pra frente.
Me vesti rápido, com a primeira coisa que encontrei no armário: uma calça jeans velha e um casaco confortável. Também não tinha energia pra escolher nada mais elaborado. Amarrar o cabelo já foi difícil, minha mão ainda tremia um pouco. Eu prendi tudo num coque torto mesmo. Não estava preocupada em parecer bonita. Só queria voltar pro hospital o mais rápido possível.
Quando desci pra cozinha, o relógio marcava