Lex
A manhã começou como qualquer outra. Café forte na caneca de vidro, agenda cheia de reuniões, a mesa já tomada por papéis que eu não tinha paciência de revisar. Eu fingia estar concentrado, mas a verdade é que o silêncio dentro da minha casa estava me matando.
Desde que mandei Ana embora, a lembrança dela não saía da minha cabeça. Cada palavra atravessada, cada olhar dela no helicóptero antes de ir embora… aquilo grudou em mim como veneno. Eu tentava me convencer de que tinha feito o certo. Eu repetia isso como mantra. Foi melhor assim, Lex. Foi melhor assim.
Mas não adiantava.
Eu estava perdido nos meus próprios pensamentos quando o barulho da TV ligada me chamou atenção. A funcionária tinha deixado o jornal matinal passando. Normalmente, eu ignorava, mas naquele dia a voz da repórter soou como um tiro no meu ouvido:
— “E a tragédia da noite passada ainda repercute na cidade: um prédio de kitnets no centro desabou parcialmente, deixando dezenas de famílias desabrigadas, quatro f