Ana
Eu não sabia quanto tempo tinha ficado ali, sentada no banco da praça com a mala ao meu lado. As luzes da cidade iam mudando, a noite parecia mais fria, e eu continuava sem rumo, sem coragem de me levantar. Minha mente só repetia uma coisa:
Não tenho casa, não tenho dinheiro, não tenho nada.
Quando finalmente consegui me obrigar a andar de novo, foi quase automático voltar para perto do prédio onde eu morava. Talvez eu quisesse ver com meus próprios olhos, confirmar que tudo tinha mesmo acabado.
Chegando na rua, o cheiro de mofo, fumaça e cimento ainda enchia o ar. O prédio estava interditado, com faixas amarelas da polícia e dos bombeiros. Algumas pessoas ainda estavam ali, de pé, como viúvas do lugar que tinham perdido. O caos parecia ter virado silêncio — o tipo de silêncio pesado, de quem já chorou demais e não tem mais forças.
Foi quando eu vi Dona Marta, minha vizinha do terceiro andar, sentada na calçada com uma sacola plástica cheia de roupas. Nós não nos conhecíamos muit