6. Círculos Perigosos

PADGETT.

A luz da manhã atravessava as frestas das cortinas com força suficiente para incomodar, mesmo de olhos fechados. Meu corpo inteiro parecia pesado, como se eu tivesse sido arrastada por quilômetros antes de ser jogada ali.

Quando finalmente abri os olhos, o choque quase me derrubou.

O quarto ao meu redor era grande demais, bonito demais, limpo demais… para alguém como eu. As paredes eram revestidas por um papel de tom pastel, com detalhes florais discretos, e móveis de madeira escura contrastavam com a paleta clara. Os lençóis alvos, macios como nuvens, me envolviam como se eu fosse uma peça frágil de porcelana.

Sentei tão rápido que o mundo girou. Pressionei a testa com as mãos enquanto tentava ordenar os pensamentos.

Onde… onde eu estava?

O sol parecia forte demais para uma manhã de inverno. Fechei os olhos, respirando fundo, procurando alguma lembrança recente. Fragmentos vieram em flashes confusos: a floresta… a dor no tornozelo… pessoas desconhecidas me cercando… um homem de olhos vermelhos…

Antes que eu pudesse organizar tudo, a porta rangeu.

Meu coração parou.

O som de passos. Masculinos. Firmes.

Meu instinto gritou para eu fugir, mas minhas pernas estavam tão úteis quanto duas peças de pedra.

— Querida… você acordou.

A voz que invadiu o quarto me congelou o sangue nas veias.

Aiden.

O nome dele explodiu na minha cabeça com a mesma força de um trovão.

Meu estômago revirou, e por um segundo, pensei que estava sonhando de novo… ou talvez num pesadelo dentro de outro.

Ali estava ele, com aquele sorriso amaldiçoado, o mesmo que um dia me fez dizer sim a um pedido de casamento.

As covinhas nas bochechas… o cabelo loiro bagunçado… o olhar cínico mascarado de ternura.

Não. Isso não podia estar acontecendo.

— Você… — Minha voz saiu falha, cortada pelo pânico e o ódio. — Você é um maldito traidor! Como chegou aqui?

Ele inclinou a cabeça como se estivesse genuinamente confuso. Aquele ar de falsa inocência que só ele sabia fazer.

— Paddie… o que está dizendo? Estive aqui o tempo todo… cuidando de você.

Mentiroso. Manipulador.

As memórias da nossa história vieram como lâminas afiadas: promessas quebradas, mentiras bem contadas, e o olhar satisfeito dele quando… quando...

Meu corpo inteiro tremia.

Tentei gritar de novo, mas o som não saía. E então ele se aproximou da cama, como um predador chegando perto da presa.

Meus olhos arregalaram, e tentei me mover para longe, mas era como se estivesse presa. Meus músculos não respondiam.

Ele se sentou ao meu lado, o calor do seu corpo me queimando.

— Está segura agora… confie em mim.

Não! Não havia segurança possível perto dele. Eu queria fugir, gritar, lutar… qualquer coisa.

Enquanto ele falava de lembranças antigas, meu cérebro oscilava entre acreditar e odiá-lo. Entre confiar no que eu via… e no que eu sabia.

E quando o som do mar preencheu o ambiente… eu soube.

A Ilha.

A maldita ilha.

O grito que explodiu da minha garganta foi carregado de todo o desespero e ódio que eu sentia.

E então… acordei.

De verdade.

Meus olhos se abriram abruptamente, desta vez para um quarto pequeno, de cortinas pesadas e tecido grosso, por onde só passava uma fresta de luz fraca. O cheiro… era de terra molhada, madeira… e algo mais… amadeirado… masculino.

Minhas roupas estavam diferentes. Meu corpo tremia, e um suor frio escorria pela minha nuca.

Quando virei a cabeça, quase gritei de novo.

Uma silhueta.

Alguém estava ali… parado ao lado da cama.

Dois olhos vermelhos, de um tom profundo como rubis incandescentes, me encaravam.

Meu lobo interior, mesmo ferido e fraco, recuou instintivamente. Cada parte de mim gritava: perigo.

— Estava tendo um pesadelo, lobinha?

A voz dele… baixa, rouca… vibrava no ar como um trovão abafado. E, ainda assim, havia uma calma controlada que parecia muito mais assustadora do que qualquer grito.

Minha respiração travou.

Eu não fazia ideia de quem ele era de verdade. Não sabia onde estava. Por que tinham me trazido ali? E o mais importante: como era possível esse homem… esse Lycan… exalar tanto poder?

Olhei em volta, como um animal encurralado procurando uma rota de fuga.

Ele permaneceu imóvel, os olhos rubros brilhando com uma intensidade que me deixava tonta. Não havia como negar… alguma coisa dentro de mim reconhecia o perigo nele. Meu corpo inteiro estava alerta, mas… por alguma razão, também respondia de outra forma… uma que me deixava ainda mais apavorada.

Por que meu coração estava acelerando daquele jeito?

E por que meu olhar demorava tanto nos contornos do peito nu dele… nas gotas de água ainda escorrendo da sua pele… no cabelo escuro, molhado…?

Deusa, o que havia de errado comigo?

Meu olhar caiu sobre meu próprio corpo e o pânico veio com força total.

Eu estava de camisola.

— O que… o que você fez comigo!? — A pergunta saiu mais alta do que eu pretendia, carregada de pavor.

Cenas horríveis me invadiram. Imagens dele me tocando enquanto eu dormia, mexendo em mim… Meu estômago virou ao avesso.

O homem ergueu o queixo, franzindo o cenho como se só então percebesse o rumo que meus pensamentos estavam tomando.

— O que está insinuando? — Sua voz agora tinha um tom de pedra. Fria. Letal.

Seus olhos… houve um brilho branco por um segundo, quase como um lampejo de luz… depois sumiu. Eu nem tinha certeza se vi de verdade.

— Se… se aproveitou de mim enquanto eu estava inconsciente… — sussurrei, mas mantive a firmeza.

Ele avançou um passo.

O ar ao meu redor pareceu mais denso.

— Não sou esse tipo de homem, lobinha. — O grave da sua voz cortou o espaço entre nós como uma lâmina.

A forma como disse aquilo, quase como se fosse pessoal… como se a simples acusação fosse uma afronta grave.

Por um momento, pude respirar melhor. Mas meu alívio foi curto.

— Então quem me trocou?

Ele suspirou, passou uma mão pelos cabelos úmidos e pegou uma camisa de uma poltrona próxima. Ao fazer isso, seus músculos se moveram como cordas tensionadas. Era impossível não olhar.

— A curandeira. — respondeu, vestindo a camisa devagar. — Ela te deu um banho de ervas para ajudar na sua recuperação. Acredito que já esteja melhor da sua lesão… não é?

Meu olhar caiu para meu tornozelo. Uma tala improvisada o envolvia. Mexi o pé devagar e, para minha surpresa, a dor quase tinha sumido.

O que…?

— Parece… aceitável… — murmurei, mais para mim do que para ele.

Ao erguer o olhar, dei de cara com o dele me observando.

Ele me analisava como se pudesse ver através de mim.

De novo, aquela sensação. Como se eu estivesse exposta. Vulnerável de um jeito que nem nos piores momentos com Aiden eu tinha sentido.

E então, o olhar dele desceu.

Percorreu minhas pernas, subiu lentamente pelas minhas coxas, meu quadril, minha cintura… e finalmente parou nos meus lábios.

Meu corpo reagiu com um arrepio, como se um fio elétrico percorresse minha espinha.

Aquele homem me olhava como se eu fosse dele.

"Controle-se, Padgett." Era difícil. A tensão era quase física entre nós.

Respirei fundo, reunindo a pouca coragem que me restava.

— Pare de me olhar como se eu fosse a sua próxima refeição.

Ele arqueou a sobrancelha, e pela primeira vez, vi um resquício de humor em seus olhos.

— Para deixar claro… — disse com a voz mais baixa e arrastada do que antes, — Não sou canibal, mas… — Fez uma breve pausa, olhando novamente para minha boca. — você tem lábios bonitos e cheios. Posso achar uma função para eles… se quiser.

Meu coração perdeu uma batida.

— O quê?! — Foi tudo o que consegui dizer, as bochechas queimando.

Ele riu, no entanto, foi uma risada seca, contida. Como se estivesse rindo mais de si mesmo do que de mim.

Em seguida, o clima mudou de novo.

Ele pegou o cinto, prendeu à calça e seguiu em direção à porta.

— Tem água quente na banheira. Tome um banho e troque de roupa. Vou mandar alguém buscá-la em quinze minutos. Não se atrase.

E com isso, ele saiu.

O som dos passos ecoou pelo corredor como um aviso de que o meu pesadelo estava só começando.

E que eu tinha acabado de conhecer o homem mais perigoso da minha vida.

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