Fazia dois dias que Aurora escrevia sem parar.
Aos poucos, seu livro pessoal tomava forma — um híbrido de memórias, confissões e ensaios sobre literatura e silêncio. Era libertador, mas também assustador. Colocar suas próprias dores no papel exigia coragem diferente de publicar as dos outros.
Davi, percebendo o mergulho introspectivo da sócia, apareceu na sala com duas canecas de café e um envelope.
— Tem uma ideia aqui que pode mudar o rumo da Constela outra vez — disse, entregando o envelope.
Aurora franziu a testa. Abriu.
Dentro havia uma proposta de projeto:
“Homens Que Ficam em Silêncio”
*Uma chamada pública para relatos de homens que viveram traumas, repressões emocionais, abusos, perdas — e que nunca encontraram espaço para contar.
Objetivo: publicar uma coletânea com 10 vozes masculinas reais.
Tema: quando o silêncio engole a dor e o mundo chama isso de força.*
Aurora leu, releu, e ficou em silêncio.
— Davi... foi você quem escreveu?
— Foi. Eu pensei... a gente fala tanto de d