Paris era bela demais para ser ignorada.
As ruas estreitas, os cafés perfumados, os artistas anônimos nas esquinas. Aurora andava por tudo com os olhos de quem quer absorver o mundo inteiro, mas com o coração preso a mil quilômetros dali.
A casa de escritores onde ela ficaria por três meses era silenciosa, com paredes brancas, livros em todos os cantos e janelas imensas que deixavam a cidade invadir seus dias. Ela tinha um quarto só para si, uma escrivaninha com vista para os telhados antigos e uma cafeteira barulhenta que virou companhia inseparável nas madrugadas.
No início, as palavras vinham com força. Um novo projeto começava a tomar forma: algo mais cru, mais íntimo, como se agora ela escrevesse com camadas arrancadas.
Mas a saudade de Davi era uma sombra constante.
Ela seguia a promessa: escrevia uma carta por semana. Às vezes com versos, às vezes com desabafos, outras vezes com silêncio entre as linhas. Enviava por e-mail, mas sempre começava com:
“Davi,
Hoje...”
Na terceira s