Os dias passaram devagar.

Aurora se tornou especialista em silêncios. Silêncios na escola, silêncios em casa, silêncios dentro dela. E dentro desse vazio sonoro, aprendeu a observar os detalhes que antes ignorava: o som da chuva batendo no vidro, o balançar das folhas na árvore da frente, o barulho abafado dos passos no corredor da escola.

Era como se o mundo tivesse ficado mais lento depois que Davi partiu.

No primeiro mês, ela contava os dias. Imaginava onde ele estava, o que estaria desenhando, se também pensava nela com a mesma intensidade. Escrevia cartas que nunca mandava, só para não esquecer a sensação de falar com ele.

No segundo mês, começou a mudar. Não que a dor tivesse ido embora, mas havia aprendido a conviver com ela. De certa forma, a saudade de Davi havia se transformado num tipo de força silenciosa. Ele não estava mais ali, mas a lembrança dele a empurrava para frente. Era como se, mesmo longe, ele ainda estivesse apostando nela.

Aurora começou a caminhar sozinha até