Frestas de Papel

~ Entre cafés, silêncios e algo que começa a florescer devagar demais para ser ignorado ~

Era final de tarde quando saí com Yves enrolado no sling azul que Vanessa me ajudou a ajustar. A cidade estava fresca, com aquele ar de chuva que não veio, e o céu parecia um borrão pastel entre o cinza e o pêssego. Tinha colocado um casaco por cima da blusa leve e caminhava com passos calmos — mais para espairecer do que com algum destino definido.

Mas, como sempre, acabei na confeitaria.

Já não era mais apenas o cheiro do café ou a textura do pudim. Era o som da porta se abrindo. Era a cortina branca balançando discretamente. Era aquele espaço pequeno e seguro onde eu me reconhecia sem esforço.

Yves dormia tranquilo, o rostinho encostado no meu peito, a respiração curtinha e quente. Liam sorriu quando me viu entrar.

— Mesa de sempre?

Assenti com um aceno pequeno e fui até o canto. O lugar parecia mais vazio que o habitual — ou talvez fosse só o mundo dentro de mim que estivesse espaçoso demais
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