Entre Sombras e Desejos

Entre Sombras e Desejos PT

Romance
Última atualização: 2025-05-15
Bea  Em andamento
goodnovel16goodnovel
0
Avaliações insuficientes
52Capítulos
973leituras
Ler
Adicionado
Resumo
Índice

"Às vezes acordo com o cheiro de cigarro em minhas roupas. Batom borrado. Dinheiro que eu não lembro de ter ganhado. E o mais estranho: um gosto de liberdade que não me pertence." Desde que saí do orfanato, tenho tentado levar uma vida simples. Trabalho à noite, estudo de dia. Me esforço para esquecer o vazio que me acompanha desde que me entendo por gente. Mas algo em mim está quebrado — ou escondido. Há lapsos de tempo que não consigo explicar. Momentos em que outra parte de mim assume o controle... e eu desapareço. Ela é forte. Corajosa. E sombria. Vive o que eu não ouso sequer imaginar. E volta sempre com os olhos cheios de algo que me assusta: poder. Não sei ainda quem — ou o quê — eu sou. Mas sei que tem algo crescendo dentro de mim. Algo que está acordando devagar, espreitando nas sombras. E quando essa coisa despertar por completo... não sei se ainda serei eu.

Ler mais

Capítulo 1

O vazio entre ontem e agora

A primeira coisa que percebo é o cheiro. Um perfume forte, adocicado demais. Não é meu.

Meus olhos se abrem devagar. A luz é baixa. Os lençóis, desconhecidos. E o teto... definitivamente não é o da minha casa.

Meu corpo está dolorido, como se eu tivesse dançado a noite inteira ou brigado com o mundo. Talvez as duas coisas. Minhas pernas doem. Meus lábios ardem. Há uma nota de cinquenta dobrada no bolso da minha jaqueta. Não lembro de tê-la colocado ali.

A sensação de vazio no peito é mais familiar do que eu gostaria de admitir.

— Que dia é hoje? — murmuro, tentando encontrar respostas que nunca vêm.

Levanto cambaleando, tentando montar o quebra-cabeça da noite anterior. Mas tudo que encontro são peças que não se encaixam: um salto quebrado no chão, um copo de uísque pela metade, uma gargalhada que ainda ecoa na minha cabeça, mas que não é minha.

Foi ela de novo.

A mulher que vive dentro de mim.

A que desperta quando eu apago.

Não sei o nome dela. Só sei que, quando ela assume, eu desapareço. E quando volto, é como se tivesse vivido uma vida que não é minha. Mas as consequências... essas, ela sempre deixa pra mim.

Queria contar pra alguém. Dizer que estou perdendo o controle. Que tenho medo.

Mas como explicar ao mundo que há uma outra eu vivendo em segredo...

...e que, no fundo, eu a invejo?

Sento na beira da cama e apoio o rosto nas mãos. Meus dedos tremem. Não sei se é medo ou cansaço. Talvez os dois.

Fecho os olhos por um instante... e sou engolida pelas lembranças.

O cheiro de sabão barato. O som das freiras andando de salto pelos corredores. As meninas brigando pelo cobertor mais quente. E eu... sempre no canto, com um livro no colo e a cabeça cheia de perguntas que ninguém queria responder.

"Você não tem pais", disseram. "Mas vai crescer forte."

Forte.

Aprendi cedo que ser forte significava calar a dor.

Significava não perguntar por que ninguém veio me buscar.

Significava sorrir quando outra criança era adotada e eu ficava para trás.

Lembro do dia em que fiz onze anos. Ganhei um bolo pequeno e uma vela torta.

Fiz um pedido em silêncio. Não por uma família. Nem por amor.

Pedi para deixar de sentir.

Desde então, aprendi a me proteger com distância. A me esconder no barulho da rotina. A ocupar cada hora do dia para não ouvir o que sussurra dentro de mim à noite.

Mas ela ouve.

Ela sente.

Ela existe.

E quanto mais eu tento ignorar... mais forte ela se torna.

Demoro um pouco até conseguir me levantar. Meu corpo pesa como se estivesse carregando algo invisível — ou como se ela ainda estivesse aqui, presa à minha pele.

Me visto com pressa. Tento ignorar o gosto metálico na boca e o roxo escondido sob a gola da blusa. Um táxi passa, e eu aceno, quase com vergonha. O motorista me encara pelo retrovisor como se visse algo que nem eu sei o que é. Talvez ele veja.

A cidade ainda dorme. O céu está pálido, tingido por um azul frio que corta a alma. Quando o carro para em frente ao meu prédio, fico um instante observando as janelas acesas. Não sei se alguém me espera. E sei que ninguém vai notar se eu sumir.

Abro a porta do pequeno apartamento e sou recebida pelo silêncio. Meu lugar seguro — ou pelo menos era. Um quarto apertado, uma cozinha mal iluminada e pilhas de livros de enfermagem espalhados pela mesa. É a vida que construí sozinha.

Mas às vezes parece que nem é minha.

Jogo a bolsa no sofá e vou direto ao banheiro. Preciso ver meu rosto. Ver se ainda sou eu. O espelho devolve uma imagem borrada: rímel escorrido, cabelo bagunçado, olhos... estranhos.

— O que você fez essa noite? — murmuro. A pergunta ecoa pelas paredes.

Pego o celular. Nenhuma mensagem. Nenhuma chamada perdida.

Mas há algo estranho. Um número desconhecido. Uma foto. Um nome salvo como “Vermelho”.

E um endereço.

Meu coração dispara. Não faço ideia de quem seja. Mas alguma parte de mim... sabe. Sente.

Ela esteve lá.

E quer que eu vá também.

Mais
Próximo Capítulo
Baixar

Último capítulo

Mais Capítulos

Você também vai gostar de

Novelas relacionadas

Nuevas novelas de lanzamiento

Último capítulo

Não há comentários
52 chapters
O vazio entre ontem e agora
O mundo lá fora não sabe de nada
Fragmentos
Espelhos Turvos
Ecos de um reflexo
Açúcar e Silêncio
O jogo começa
Ecos na Névoa
Entre Fraldas e Silêncios
Jogadas e Olhares
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App