A rua estava úmida pela garoa que insistia em cair desde o amanhecer. Eu quase não saí de casa. Quase. Yves teve uma crise de birra por não achar um dos desenhos preferidos dele e eu já estava com dor de cabeça antes das nove da manhã. Mas mesmo assim, mesmo com tudo me dizendo para ficar, vesti minha jaqueta jeans, amarrei o cabelo no alto da cabeça e saí. Sem maquiagem. Sem rumo definido. Só com vontade de silêncio — ou de qualquer coisa que se parecesse com isso.
Meus pés seguiram sozinhos, como já faziam há semanas. Quando percebi, estava empurrando a porta da doceria.
O som familiar do sino me trouxe uma sensação estranha de déjà-vu. Como se cada visita fosse uma repetição de outra versão de mim. A mesma mesa, perto da janela. O mesmo cheiro de café fresco misturado com baunilha e açúcar queimado. E claro, Liam, sempre atrás do balcão, com aquele sorriso de quem sabe de tudo e escolhe não dizer nada.
— O de sempre? — ele perguntou, antes que eu dissesse qualquer coisa.
— Sempre.